São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 1997
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Sobre a incineração

CELSO ORSINI

Agrava-se o problema do destino final do nosso lixo sólido. Diminuem os espaços disponíveis para lixões e aterros sanitários. Logo ninguém vai saber o que fazer com as 11 mil ou 12 mil toneladas de lixo que geramos diariamente na nossa gigantesca cidade.
Com isso, acirrou-se antiga polêmica sobre incineradores de lixo: constroem-se ou não essas "peças" na cidade?
Para os opositores (que são muitos), esses "monstros poluidores" mais complicam do que ajudam: melhor seria adotar modernas e ecológicas técnicas de reaproveitamento do lixo.
Mas a prefeitura pensa diferente. E até já deu os primeiros passos: providenciou projetos para três "usinas de processamento de resíduos sólidos domiciliares", nas zonas sul, leste e oeste.
Cada usina deverá ter três módulos de incineração, cada um com capacidade de 480 t de lixo/dia, chaminé de 100 m, precipitador eletrostático e lavador de gases -para controlar matéria particulada, SO2, CO, HCL e HF (sem controles específicos para dioxinas, furanos e metais pesados).
Consta, também, que tudo foi devidamente aprovado pelos autores dos EIA/Rima (Estudo de Impactos Ambientais/Relatório de Impactos ao Meio Ambiente), pelos consultores Proema e Fipe e pelo Cades (Conselho Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável). Não obstante, o empreendimento encontra-se embargado pela Justiça.
Os prognósticos de qualidade do ar apresentados pelo EIA (cujos resultados deveriam embasar as escolhas das mitigações dos impactos atmosféricos) constituem-se, no entanto, em maquiagens sofisticadas.
As simulações de dispersão de poluentes foram feitas para cenários sazonais alimentados por dados meteorológicos médios (de dez anos), no lugar de cenários de dias críticos. Os impactos atmosféricos nos dias críticos (no mínimo, uma dezena por ano) deverão ser muito maiores.
Se for inevitável apelar para os "malditos incineradores", que se exijam, pelo menos, duas garantias: 1) que sejam temporários -a quantidade de lixo incinerada diariamente deverá diminuir, na mesma medida em que se consiga aumentar a de lixo reciclado; 2) que as manutenções dos sistemas de controle de emissões de poluentes, constantes do projeto, sejam rigorosamente fiscalizadas.
Além disso, espera-se que os responsáveis ajam com os pés no chão e sem maquiagens (como a já citada). Caso contrário, colocar em operação três incineradores de grande porte (1.400 toneladas de lixo/dia), ainda que por pouco tempo, será uma temeridade.

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