São Paulo, sábado, 12 de abril de 1997
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Receita vê ligação entre Renê e Negocial

VALDO CRUZ; FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Envolvimento seria para legalizar lucros irregulares obtidos no esquema dos precatórios

A Receita Federal encontrou documentos que comprovam o envolvimento de Renê Bushel com uma das empresas do esquema dos precatórios em operações de lavagem de dinheiro.
Bushel atuaria em conjunto com a distribuidora Negocial em operações de remessa de dinheiro do exterior para o Brasil e vice-versa. O objetivo seria legalizar lucros irregulares obtidos no esquema dos precatórios -dívida judiciais.
A Negocial pertence a José Luiz Priolli e é classificada pela CPI como uma das empresas que ajudou a montar o esquema. Bushel, oficialmente, apenas administra bens de Priolli no exterior -no caso, um apartamento em Miami.
A Receita Federal diz ter provas de que Bushel é o misterioso personagem citado por Fausto Solano Pereira, da distribuidora Boa Safra, em seu depoimento à CPI dos Precatórios.
O nome verdadeiro de Bushel -que seria um codinome usado no mercado de dólar- é Renê Gióia Júnior. Ele é brasileiro e reside em Miami. É o dono da empresa Americana Limited.
O serviço de inteligência da Receita descobriu que Renê tem dois CPFs e não declarou Imposto de Renda nos últimos cinco anos.
Há documentos encontrados pela Receita Federal que comprovam mais negociações entre Bushel e Priolli.
Uma das evidências de que Bushel é o Renê citado por Fausto Solano Pereira é que os dois usam os serviços do mesmo advogado.
Quando depôs na CPI dos Precatórios, Solano disse que o advogado que lhe prestava serviços em Miami, Juan Onaghten, indicou-lhe uma forma de trazer dinheiro para o Brasil. Em seguida, Solano diz ter recebido a ligação de uma pessoa chamada Renê.
Solano foi convocado pela CPI por ter recebido um cheque no valor de R$ 9,756 milhões da IBF Factoring, uma das empresas de fachada do esquema.
Esse cheque, segundo ele, seria parte de uma operação pessoal sua para trazer um dinheiro seu do exterior para o Brasil.
Solano disse que mantém legalmente uma conta bancária no exterior. E que teve urgência para trazer cerca de R$ 1,8 milhão. Foi então que o advogado Onaghten teria acertado a operação.
Segundo Solano, ele recebeu a ligação de Renê dizendo que não seria possível fazer o depósito de R$ 1,8 milhão no Brasil. Teria de ser uma quantia maior.
O valor depositado foi R$ 9,756 milhões. Renê teria instruído Solano a ficar com seu R$ 1,8 milhão e a repassar o troco para 54 contas bancárias no Brasil. De fato, depois que o cheque de R$ 9,756 milhões foi compensado em sua conta, Solano repassou todo o dinheiro restante para as 54 contas supostamente indicadas por Renê.

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