São Paulo, sábado, 12 de abril de 1997
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Para Rainha, Estado evitou sua prisão

OTÁVIO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A VITÓRIA

José Rainha Jr., 36, líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que esteve foragido da polícia de São Paulo durante os últimos 46 dias, acha que o Estado não teve interesse em prendê-lo por causa de sua "popularidade".
Rainha ficou escondido na zona rural do sul do Estado de São Paulo. Ontem, reapareceu para se apresentar ao juiz de Pedro Canário (ES), onde responde a processo no qual é acusado de homicídio durante invasão de uma fazenda.
O líder dos sem-terra na região do Pontal do Paranapanema (extremo oeste paulista) foi para a clandestinidade após a decretação de sua prisão e de mais quatro lideranças do MST pelo juiz de Pirapozinho (SP). No último dia 8, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) acatou recurso contra a prisão dos cinco trabalhadores rurais.
Veja, a seguir, os principais trechos de sua entrevista à Folha.
*
Folha - Onde o sr. ficou escondido?
José Rainha Jr. - Depois que escapei do Pontal, fiquei no sul do Estado de São Paulo. Aproveitei para trabalhar na roça e ler "O Povo Brasileiro", de Darcy Ribeiro.
Folha - O sr. manteve contato com o MST nesse período?
Rainha - Eu tinha apenas um contato. Por intermédio dele, ficava sabendo de tudo e continuava a participar das decisões.
Folha - A polícia esteve perto de prender o sr.?
Rainha - No dia 24 de fevereiro, quando houve o conflito na fazenda São Domingos, ouvi boatos de que minha prisão seria decretada e tratei de escapar. O primeiro lugar onde me escondi foi no assentamento São Bento. A polícia esteve lá, com cachorros, foi até a casa onde eu estava foragido. Mas eu me escondi no meio do mato e fiquei assistindo a tudo a 15 metros de distância. Para fazer uma ação militar, é preciso conhecer o terreno. A polícia não tem como me pegar no Pontal. Eu conheço as estradas, os rios...
Folha - E depois que o sr. saiu do Pontal?
Rainha - Aí não ouvi mais falar da polícia. Acho que o Estado não tinha interesse em me prender, por causa da nossa popularidade.
Folha - Como o sr. explica essa exposição que o MST está tendo nos últimos tempos?
Rainha - A década de 80 foi a época de ouro dos sindicatos, mas, com o desemprego, os operários ficaram com medo de ser demitidos. Agora é o momento do MST. Há muita terra improdutiva no Brasil, onde os desempregados possam produzir.

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