São Paulo, sábado, 12 de abril de 1997
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Iranianos ameaçam embaixada alemã

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Centenas de iranianos cercaram ontem a embaixada alemã em Teerã para protestar contra uma decisão da Alemanha de suspender o diálogo com o Irã. Eles ameaçaram cometer atentados contra ela.
A crise começou devido a uma decisão judicial de anteontem, quando um tribunal de Berlim determinou que o governo iraniano tinha responsabilidade na morte de dissidentes curdos, ocorrida na cidade em 1992.
A reza de sexta-feira, a mais importante do islamismo, se tornou uma manifestação com mais de 2.000 pessoas contra a Alemanha. O presidente Ali Akbar Rafsanjani disse que a Alemanha vai ser "debilitada" pela decisão.
Como acontece normalmente nesse tipo de manifestação em Teerã, EUA e Israel foram responsabilizados pela crise. "Eles (os dois países) precisavam de uma onda de propaganda. Devíamos esperar que eles mantivessem esse barulho no Ocidente. Mas isso não vai levar a nada, é como uma tempestade que clareia o céu", discursou o presidente, que é um religioso xiita, diante da multidão.
A partir da Universidade de Teerã, onde aconteceu a prece, a multidão marchou 4 km até a Embaixada da Alemanha, gritando slogans como "Alemanha fascista, lacaia do sionismo".
Uma barricada foi montada ao redor da sede diplomática, e houve incidentes pequenos. A organização fundamentalista Ansar-Hizbollah ameaçou fazer ataques contra o prédio. "Se o complô alemão continuar, ataremos bombas ao nosso corpo e nos lançaremos contra a embaixada", disseram seus representantes no ato.
Por causa do veredicto de Berlim, a Alemanha convocou seu embaixador em Teerã para dar explicações. Ontem, todos os países da União Européia, exceto a Grécia, fizeram o mesmo, assim como Canadá, Nova Zelândia e Austrália, por exemplo. O embaixador suíço em Teerã está em Berna e vai continuar lá em solidariedade à Alemanha. A decisão grega de não convocar o embaixador irritou o ministro alemão das relações exteriores, Klaus Kinkel.
Já o governo russo recebeu calorosamente o presidente do Parlamento iraniano, Ali Akbar Nategh-Nuri. O presidente russo, Boris Ieltsin, disse que os laços entre os dois países "se reforçaram e incrementaram" e não mencionou o veredicto do tribunal alemão ou a decisão política do governo.
Na Duma (câmara dos deputados russa), dominada por neocomunistas, a reação foi ainda mais desfavorável ao Ocidente: "Nenhum tribunal do mundo tem o direito de acusar um Estado de terrorista", disse o presidente da Casa, Guennadi Seleznev.
A Noruega, que não é membro da União Européia e possui uma das piores relações com o Irã em toda a comunidade internacional, pediu que os europeus sigam o exemplo norte-americano e adote sanções econômicas contra o país.
Por enquanto, isso não deve acontecer. O ministro Klinkel, da Alemanha, disse que não quer "jogar mais lenha na fogueira", temendo represálias aos 530 alemães que vivem no Irã.
A Alemanha é o mais importante parceiro comercial da República Islâmica. A visita de uma delegação econômica iraniana entre 21 e 25 de abril está mantida, apesar da crise. A União Européia disse que o "diálogo crítico" que seus países vinham mantendo não incluía a relação entre empresas, razão pela qual não deve haver sanções imediatamente.
Segundo o governo iraniano, Teerã não teme nem mesmo essa hipótese. "Podemos conseguir tudo o que precisamos aqui mesmo, na Ásia", disse Rafsanjani.

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