São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 1997
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Tarso Genro adota discurso de candidato em reunião em SP

Petista cita China e Iraque como exemplos alternativos

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Com discurso de pré-candidato à Presidência pelo PT em 98, o ex-prefeito de Porto Alegre Tarso Genro fez na sexta-feira à noite seu primeiro encontro formal com intelectuais paulistas para debater a conjuntura do país e a sucessão de Fernando Henrique Cardoso.
Reservado a convidados, o encontro reuniu cerca de 50 intelectuais, nem todos petistas, na pizzaria Bonde Paulista, em Pinheiros, conhecido reduto de um grupo de professores da USP. No meio acadêmico, o local foi batizado de "mussarela marxista".
O toque inusitado da noite ficou por conta da presença do ex-ministro do Planejamento João Sayad, que nunca foi ligado ao PT.
Também estavam presentes o sociólogo Emir Sader, organizador do evento, o secretário de Relações Internacionais do PT, Marco Aurélio Garcia, os críticos literários Roberto Schwarz e Modesto Carone, o economista Paulo Nogueira Batista Jr., o filósofo Paulo Arantes, a psicanalista Maria Rita Kehl e o crítico de cinema e novo membro do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), Ismail Xavier, entre outros.
Tarso Genro falou por 20 minutos e depois foi questionado por quase duas horas. A conversa oscilou entre dois pólos, o primeiro específico e o outro genérico: a experiência dos governos petistas em Porto Alegre e a possibilidade de se criar uma alternativa política de esquerda capaz de fazer frente à hegemonia em torno de FHC.
Tarso agradou no primeiro ponto e deixou várias dúvidas quanto ao segundo. No final, foi longamente aplaudido.
O nó da discussão ficou com a seguinte questão: é possível, no quadro atual, que a inserção do Brasil no capitalismo globalizado se dê de forma diferente da que está fazendo o governo tucano?
Tarso insistiu que sim e disse que o governo FHC é um "neoliberalismo mitigado", sem projeto de nação, que aceita a exclusão social como fatalidade.
Citou a seguir, como exemplos alternativos de inserção no cenário internacional, a China ("soberana") e o Iraque, que se integraria "pela recusa".
Defendeu ainda a possibilidade de se criar uma outra hegemonia no país, orientada para a criação de políticas públicas, que o atual governo estaria desmantelando.
Paulo Arantes argumentou que a questão não é de "modelos disponíveis" de inserção e que não há, a não ser no campo das idéias, projetos hegemônicos em disputa.
Provocado pelo professor de filosofia Ricardo Musse, que perguntou se ele aceitaria ser, como Ulysses Guimarães em 74, apenas um "anticandidato" em 98, Tarso disse que o PT "tem que trabalhar para vencer a eleição".
Diante das declarações de Luiz Inácio Lula da Silva de que não disputará a eleição em 98, o ex-prefeito de Porto Alegre, por sua popularidade e formação intelectual, já é visto dentro do PT como o nome ideal para enfrentar o que ele próprio chama de "debate altamente qualificado que vai pautar a campanha eleitoral em 98".

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