São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 1997
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Cida Moreira canta o cinema brasileiro

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Ela segue seu ritmo. Gravando em média um disco a cada quatro anos desde sua estréia, em 1981, Cida Moreira (agora sem o "y" que inventara no "Moreyra"), 45, lança "Na Trilha do Cinema", um compêndio de 16 canções antes utilizadas em filmes brasileiros.
O CD, que segue "Cida Moreyra Canta Chico Buarque" (93) e "Cida Moreyra Interpreta Brecht" (88), reverte a tendência da cantora a tomar a teatralidade dos autores que interpreta como medula nervosa de suas releituras. É hora e vez do cinema.
Mas a reversão se dá mais pela temática escolhida que por seu canto propriamente dito.
"Continuo teatral cantando o cinema, embora ser teatral não seja uma proposição minha. É que minha personalidade é assim, meio expressionista, meio carregada de intenções", afirma.
A teatralidade sempre inerente não é gratuita: Cida atuou com o grupo Ornitorrinco, de Cacá Rosset (além de, mais recentemente, contracenar no palco com Denise Stoklos).
Em sua atividade como atriz está outro ponto de contato com o disco de cinema: atuou em vários filmes do cinema paulistano de vanguarda dos anos 80, como "O Olho Mágico do Amor", "Estrela Nua" e outros.
Mas seu CD não se limita a essa fase. Parte da década de 40, de "O Ébrio" (46), passa pelo apogeu da Vera Cruz nos 50, com "O Cangaceiro" (53), e pela explosão do cinema novo dos 60, de "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (64), até chegar aos 90, com "A Terceira Margem do Rio" (94).
Patrocínio Deixados de lado os nobres teatro e cinema, quem possibilitou a existência do disco foi a mundana televisão. "Na Trilha do Cinema" se transforma em especial de TV a ser exibido nos dias 26 e 27 próximos pelo canal pago Bravo Brasil (exclusivo TVA).
Trata-se de uma parceria entre o canal e a gravadora Kuarup. A primeira entrou com a produção e a tiragem inicial do CD (além do especial de TV), a segunda entrou com prensagem, gráfica, distribuição e divulgação.
"É uma idéia excelente, até porque tira esse ranço de independente, uma questão que hoje vejo com muita reserva. O artista independente acaba muitas vezes fazendo tipo de vítima. Acho que artista não tem o menor direito de se queixar, pode desistir de ser artista a hora que quiser. É um projeto de vida muito grande", resume.
Mas as limitações da dita independência ainda retocam seu trabalho. "Por minha vontade, gostaria de gravar um disco a cada dois anos. Tenho vários projetos concluídos, que só falta gravar."
Quase todos envolvem seu lado teatral. Ela pretende -entre outros projetos- transformar em CDs shows que fez com o repertório de Cole Porter e da ópera "Porgy and Bess", gravar um álbum só de canções antigas de rádio ("teria que ser derramado, absurdado") ou ainda mais outros dedicados a Brecht e Kurt Weill.
O projeto antigo de dedicar um CD só à obra de Paulinho da Viola ela prefere manter congelado. "Parece que agora virou moda -quem sabe quando não for mais eu o retome. Mas fico insegura com esse projeto. Já achei que não era capaz de cantar samba."
Ela mesma lembra que lotou um show dedicado exclusivamente à obra do sambista paulista Adoniran Barbosa -mais outro possível projeto discográfico.

Disco: Na Trilha do Cinema
Artista: Cida Moreira
Lançamento: Kuarup
Quanto: R$ 18, em média

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