São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 1997
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Papa retorna ao Vaticano, após ameaça

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O papa João Paulo 2º encerrou sua visita de dois dias à Bósnia no final da tarde de ontem, retornando a Roma num avião escoltado por vários helicópteros da Otan.
Estiveram em sua despedida dois dos três membros da Presidência bósnia. A exemplo do que aconteceu na chegada, o sérvio Momcilo Krajisnik esteve ausente, alegando "razões de segurança".
A visita do papa foi marcada por ameaças de atentado, discursos entusiasmados pela paz e uma reunião com os três presidentes bósnios, que representam cada uma das principais etnias do país.
No encontro entre os líderes políticos e o papa, Krajisnik reiterou sua intenção de preservar a autonomia dos sérvios no país, mantendo a política de aproximação com a vizinha Iugoslávia (formada por Sérvia e Montenegro).
Pelo acordo de Dayton (EUA), a Bósnia foi dividida em duas unidades políticas, a República Sérvia e a Federação Muçulmano-croata.
Os sérvios bósnios e a igreja católica estão em conflito de interesses desde 1992. Naquela ocasião, o Vaticano esteve entre os primeiros estados a reconhecer a independência da Bósnia, proclamada por muçulmanos e croatas bósnios contra a vontade dos sérvios.
Os sérvios são cristãos ortodoxos, ao passo que a população croata é católica romana, o que explicaria a posição do Vaticano.
O papa reiterou na reunião seu particular interesse em Sarajevo como cidade onde conflito pode se converter em tolerância inter-religiosa e interétnica.
Em seu discurso, o papa disse que a cidade "pode chegar a ser, ao final deste século, um exemplo de coexistência e diversidade para muitas nações que padecem da mesma dificuldade, na Europa e em outras partes do mundo".
João Paulo 2º pediu ainda o retorno dos refugiados e a criação de postos de trabalho.
Pelo menos 70% dos muçulmanos estão desempregados e estima-se que o número seja ainda maior entre os sérvios bósnios.
Ontem, em missa ao ar livre sob neve para pelo menos 35 mil pessoas, o papa questionou a passividade da Europa em relação ao conflito nos Bálcãs. "A Europa participou (da guerra entre 1992 e 95) como testemunha. Mas precisamos nos perguntar: ela foi uma testemunha plenamente responsável durante todo o tempo? Essa questão não pode ser evitada."
O estádio Kosevo, onde foi rezada a missa, estava apenas parcialmente ocupado. Entre as razões para a platéia relativamente pequena estão o mau tempo e o fato de apenas 20 mil croatas católicos ainda viverem em Sarajevo.
No sábado, João Paulo 2º escapou de sofrer um atentado depois que a polícia bósnia localizou e desativou 23 minas instaladas no trajeto do cortejo pela cidade.

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