São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 1997
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Polícia é alvo de 2,3 mil queixas no Rio

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

No ano de 1996, o Disque-Denúncia -serviço de informações anônimas ligado à Secretaria da Segurança Pública do Estado e à Associação Rio contra o Crime- recebeu 2.272 ligações acusando policiais de extorsão e corrupção.
Os dados fazem parte de uma pesquisa realizada por especialistas do Instituto de Estudos da Religião (Iser), tendo como base as 144 mil ligações computadas no ano passado pelo Disque-Denúncia.
Segundo a antropóloga e cientista política Jacqueline Muniz, 33, que participou do estudo, esses dados demonstram que atitudes ilícitas de policiais, como o espancamento de moradores da Cidade de Deus, não são
"casos isolados nem esporádicos". Na opinião de Muniz, "o que se pode dizer hoje é que não há mecanismos externos de controle policial".
Vinte por cento dos telefonemas foram considerados perdidos: eram trotes e enganos.
O maior vilão do Disque-Denúncia foi, portanto, o próprio serviço público. A população telefonou para reclamar da falta de luz ou de água, do orelhão quebrado ou para saber como resolver problemas que deveriam ser
encaminhados a delegacias ou aos bombeiros.
Entre as denúncias de atitudes criminosas, as que envolviam acusações contra policiais de extorsão ou corrupção chegaram a 4,12%. Denúncias de homicídios ou grupos de extermínio foram 5,37%. "Não é uma relação direta, mas, muitas vezes, há também policiais envolvidos em grupos de extermínio. Os números, embora pareçam baixos, são muito reveladores."
Segundo ela, boa parte da população ainda associa o Disque-Denúncia à polícia, o que faz com que muitos dos denunciantes em potencial temam represálias.
Na avaliação de Jacqueline Muniz, o alto índice de queixas contra as empresas prestadoras de serviços públicos revela o que ela chama de "desordem pública": a falta ou a má qualidade dos serviços ofertados à população.
O Disque-Denúncia foi implantado no final de 1994. Hoje, tem 12 computadores e funciona no pré dio da Secretaria da Segurança, 24 horas por dia. O número é (021)253.1177. Quem liga não precisa se identificar e recebe um código
para completar as informações ou checar o andamento da denúncia.
O assessor de imprensa da Secretaria da Segurança, Airton Baffa, disse que a secretaria investiga todas as denúncias contra policiais.

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