São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 1997
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BOM ENQUANTO DURA

A década perdida não se perdeu por acaso: os anos 80 foram trágicos porque ocorreu um endividamento externo insustentável no período anterior. Antes da crise, houve até quem acreditasse em "milagre".
Hoje, os críticos do Plano Real alertam para os riscos de a história repetir-se. O sucesso do plano de estabilização passa pela estabilidade cambial. Como as taxas de juros no exterior têm sido muito mais baixas do que as domésticas, o conforto do câmbio favorável colocou as empresas brasileiras numa nova rota de endividamento no exterior.
Segundo o Banco Central, o setor privado assumiu em 1996 quase metade da dívida externa total brasileira, o equivalente a US$ 89 bilhões.
Os otimistas reagem aos críticos descartando as previsões catastrofistas de uma nova crise provocada pela dívida externa. De fato, há razões para maior otimismo agora.
Nos anos 70 e 80 a globalização financeira ainda era uma realidade incipiente comparada à diversidade e sofisticação dos instrumentos hoje disponíveis. Naquela época predominava a dívida bancária. Hoje, tudo passa pelos mercados de capitais. É também verdade que a dívida foi então inflada por projetos estatais megalomaníacos. Hoje, destacam-se os projetos de empresas privadas.
Aliás, depois de um longo período de dieta forçada, nada mais natural que uma economia estabilizada, despertando maior confiança, volte a servir-se de fundos externos. Mesmo assim, dívida externa é um assunto que não pode ser tratado com ingenuidades sorridentes. No passado, também havia dívida privada, transferida para o Estado quando chegou a crise. Também se acreditava que a liquidez global era ilimitada e os problemas eram coisa "dos outros".
Hoje, o relevante não é ter ou não dívida, mas saber se outros indicadores, sobretudo a poupança doméstica, reforçam ou não a credibilidade do devedor junto aos credores.
E hoje, como no passado, ainda não foi feita essa lição de casa.

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