São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 1997
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O Estado e os predadores

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O que há em comum entre os escândalos de turno (precatórios, violência das PMs e o extrateto) é a comprovação, se ainda fosse necessário, da estado falimentar das instituições estatais.
Dito o óbvio, passemos a discutir caminhos para o resgate institucional.
Há ao menos três, a saber:
1 - o conformista. Imaginar que setrata de um problema cultural, ou seja, que o brasileiro é intrinsecamente incapaz de construir instituições que funcionem como deveriam.
2 - o missionário. Insistir em cobrar dos responsáveis uma mudança de comportamento. É sempre útil, mas, a esta altura do campeonato, é ingenuidade excessiva esperar resultados pelas duas ou três próximas gerações.
3 - torcer para que a sociedade continue o trabalho lento, quase invisível e, no geral, silencioso de construção de organismos capazes de exercer vigilância e pressão sobre o poder público ou até de eventualmente suplantá-lo em algumas áreas.
No trabalho com crianças de rua, por exemplo, há instituições não-esta tais que vêm fazendo mais do que os governos.
Esse parece ser o caminho preferido do presidente Fernando Henrique Cardoso, a julgar por suas últimas entrevistas.
Nada contra. Mas é também algo que vai demorar uma geração, na hipótese otimista, para dar frutos de fato apreciáveis.
Esse tipo de iniciativas, para pegar no breu, depende sempre de um em purrão, quando não da liderança, das instituições oficiais. Vide a Itália: parte da magistratura, por iniciativa própria ou montada em manifestações públicas contra a violência, promoveu a "Operação Mãos Limpas".
A vida pública italiana tornou-se algo mais "clean". Aqui, o presidente optou por aliar-se aos que foram historicamente senhores feudais do Estado brasileiro e o conduziram ao apodrecimento. Como imaginar que os predadores façam a regeneração?

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