São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 1997
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FHC 'estimula' confronto político, diz UDR

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Roosevelt Roque dos Santos, 49, disse ontem que o presidente FHC, ao aceitar receber e dialogar com o MST na próxima sexta, está semeando um confronto que poderá colocar em xeque o governo.
Segundo o presidente da UDR, recriada em setembro do ano passado, o Movimento dos Sem-Terra "está sendo usado pelas forças políticas de esquerda, que precisam de uma bandeira para se reorganizar e enfrentar o governo".
"Esse é um movimento ideológico que não tem nada em comum com o governo FHC", afirmou Santos à Folha.
"Ao contribuir para o fortalecimento dessa entidade, o governo está estimulando um confronto político cujo resultado não sabemos qual será."
"Quando isso acontecer, vou assistir o conflito de arquibancada", completou Santos.
Para o presidente da UDR, o governo FHC está se comportando como "refém" do MST.
"A desapropriação de terras a reboque de invasões ilegais é um desrespeito à Constituição e ao direito da propriedade", disse.
O presidente da UDR afirmou, entretanto, que sua entidade não está planejando fazer nenhum ato em oposição às manifestações que vão acontecer em Brasília nos próximos dias.
"Não vamos fazer nada que possa servir de contraponto à marcha do MST", disse Santos.
Segundo ele, a UDR deve se reunir com outras entidades representantes dos proprietários e produtores rurais após o término da marcha para avaliar seu alcance e elaborar uma estratégia para conter o avanço do MST.
Já o diretor-executivo da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cláudio Braga, questionou a idéia de que a marcha dos sem-terra teria contribuído para aumentar o apoio popular do MST.
"A população urbana ilude-se porque não sabe qual é a situação no campo e", afirmou Braga. "Mas, no momento em que o movimento dos sem-teto decidir copiar o MST e começar a invadir residências nas cidades, esse apoio popular acaba."
Segundo Braga, a questão agrária está sendo discutida e tratada de forma simplista. "É uma ilusão achar que basta dar terra aos sem-terra para que eles melhorem de vida", disse o diretor-executivo da Sociedade Rural Brasileira.
"A terra propriamente dita representa quase nada na produção agrícola, algo em torno de 5%", afirmou. "Sem os outros 95%, ou seja, crédito, infra-estrutura, tecnologia etc., ninguém consegue produzir", completou.

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