São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 1997
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PM de SP negligenciou fita de Diadema

CRISPIM ALVES
FABIO SCHIVARTCHE

FABIO SCHIVARTCHE; CRISPIM ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Alto comando da corporação discutiu a gravação enquanto falava sobre convites grátis para assistir à Fórmula 1

O comando da Polícia Militar do Estado de São Paulo negligenciou a fita de vídeo que mostra policiais de Diadema (Grande São Paulo) extorquindo e torturando civis na favela Naval.
A existência da fita foi discutida entre o alto comando da corporação quatro dias antes de ser exibida na TV, durante negociação de ingressos de cortesia para o Grande Prêmio Brasil de Fórmula-1.
A conversa foi confirmada ontem pelos coronéis Coji Yanaguita, na época comandante interino do CPM (Comando de Policiamento Metropolitano) -terceiro maior posto na corporação-, e Carlos Alberto da Costa, subcomandante-geral da PM (segundo maior posto). Os dois depuseram na CPI de Diadema.
Yanaguita foi comunicado da existência da fita no dia 27 de março. No mesmo dia, que antecedia o início dos treinos para o GP Brasil, telefonou para Costa.
Segundo Yanaguita, ele precisava dizer ao subcomandante que não dariam ingressos de cortesia este ano para a PM. "Para não sofrer pressão dos meus colegas, passei a bola para o subcomandante."
Foi no meio dessa conversa que Yanaguita informou Costa sobre a fita de Diadema. "A comunicação foi rápida. Não forneci mais detalhes porque não visualizava mais nenhuma providência a ser tomada. Ele também não me fez mais questionamentos. Apenas perguntou: 'Japonês, e os convites?"'
Yanaguita também disse a Costa que um cinegrafista amador estava negociando a venda da fita a uma emissora de TV. "Comuniquei que as providências foram tomadas e que não tínhamos como impedir que a fita fosse vendida à TV", declarou Yanaguita.
Em seu depoimento, Costa confirmou ter recebido a informação da fita durante conversa com Yanaguita no dia 27. No entanto, em um primeiro momento negou o episódio dos convites de cortesia. Pressionado pelos deputados, falou que não se lembrava.
Costa afirmou ainda que não levou o fato ao conhecimento do coronel Claudionor Lisboa, comandante-geral da PM, porque Yanaguita não lhe disse que se tratava de uma ocorrência grave. "Isso (a fita) chegou a mim como uma notícia entre outras tantas.". Os dois, no entanto, afirmaram que desconheciam o conteúdo da fita.
Depois que a fita foi exibida no "Jornal Nacional" (segunda-feira, dia 31 de março), cinco oficiais foram afastados. O governo do Estado disse que afastou os oficiais porque eles não haviam comunicado seus superiores sobre a fita.
Os depoimentos de ontem provam que o fato foi comunicado ao comando da PM. O comandante-geral, Lisboa, que anteriormente havia dito que tomaria uma decisão após os depoimentos, disse que não se pronunciaria sobre o assunto por hora. Hoje, o alto comando da PM volta a se reunir.

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