São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 1997
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Violência em Cidade de Deus terá novo inquérito

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O Ministério Público determinou ontem a abertura de um novo Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar o pagamento de propinas por traficantes da Cidade de Deus (zona oeste do Rio) a policiais do 18º Batalhão, Jacarepaguá.
São deste mesmo batalhão os seis PMs acusados de agressões contra moradores no bairro. As cenas das foram feitas por um cinegrafista amador e mostradas na TV.
Os policiais estão sendo processados na Justiça Militar por organização de grupo armado para prática de violência, extorsão, falsidade ideológica, constrangimento ilegal e lesão corporal leve.
Depoimentos de moradores da Cidade de Deus denunciaram a existência de uma "caixinha" mantida pelos traficantes para pagar policiais do 18º BPM.
A Secretaria de Segurança informou que só poderia se manifestar sobre o novo IPM depois que a acusação fosse confirmada. O comandante do 18º BPM, tenente-coronel Maurício Ghedini, não quis comentar o caso.
Irão compor o Conselho Especial de Justiça o coronel Alcir da Silva Reis e os tenentes-coronéis Luís Felipe Schittini, José Carlos Rodrigues Laura e José Henrique Marinho de Souza.
A defesa dos policiais deve caracterizar a filmagem como situação armada pelos traficantes da favela e alegar que os policiais foram provocados e agiram num estado de perturbação de ânimo.
"Foi tudo orquestrado por traficantes", disse o advogado Ubiratan Guedes. Guedes defende o major Álvaro Rodrigues Garcia, 32, chefe da ação policial e denunciado pelos crimes de falsidade ideológica, constrangimento ilegal e extorsão.
Ele quer recorrer ao artigo 45 do Código Penal, que determina punição para excessos policiais de forma culposa (sem intenção). O artigo garante a absolvição do policial em caso de ação sob surpresa ou perturbação de ânimo.
A maior dificuldade dos promotores é conseguir testemunhas contra os policiais. Só duas vítimas concordaram em depor. Por determinação do governador Marcello Alencar, estão suspensas as incursões rotineiras da PM em favelas e morros. A determinação foi para que a PM faça apenas rondas nas favelas.

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