São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 1997
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Araquém Alcântara retrata parques nacionais

ANA MARIA GUARIGLIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Araquém Alcântara, considerado um dos precursores da fotografia de natureza no país, regressou de uma expedição de quatro meses por sete Estados da Amazônia.
Araquém captou imagens de ecossistemas e de habitantes nas áreas de fronteiras com a Venezuela, Peru, Colômbia e Guiana Francesa, percorrendo no total mais de 60 mil quilômetros.
O acampamento na selva durou 40 dias, pelo menos a metade gasta para subir o pico da Neblina, com 3.014 m, o ponto mais alto do país, na fronteira com a Venezuela.
Na divisa da Guiana com a Venezuela, também escalou o monte Roraima, outro ponto alto brasileiro, com 2.875 m.
A expedição resultou em perto de 7.000 fotos, incluindo grupos tribais pouco conhecidos, como os uniquins, e locais isolados, como cachoeiras e igarapés.
"Foi uma aventura heróica, cheia de descobertas e assombros, que serviu para conhecer uma Amazônia intocada, um cenário superlativo e mágico de terras e povo ainda em construção", diz.
Recolheram cenas inéditas da vegetação, de rios e cachoeiras e dos grupos indígenas uniquins, pacaás novos e outros.
Um mundo de vida enigmática e complexo, com tribos que pararam no tempo, vivendo da pesca rudimentar, da caça a antas, porco do mato, aves e macacos.
Entre os ianomamis, em meio a mortes por tuberculose, Araquém testemunhou um povo que já se encontra muito perto do fim, vivendo na dependência do branco, fragilizado pelas doenças e desagregado de sua essência.
"A Amazônia possui a maior reserva mundial de água doce e uma concentração fantástica de vida vegetal e animal. Resta a esperança de que a região ainda está por ser descoberta", diz.
Perigos
Além de enfrentar os perigos das doenças tropicais e das picadas de insetos, ele e o assistente atravessaram abismos, equilibrando-se sobre troncos de árvores e cipós.
Por várias vezes enfrentaram situações em que poderiam ter perdido a vida, como aconteceu ao norte de Roraima, durante a travessia do rio Cotingo.
O grupo se dirigia para a aldeia Manalai, dos índios Ingaricó, quando a canoa Ubá, sem quilha -peça básica do casco- desgovernou-se na correnteza.
"Se não fosse a perícia do guia Babazinho, teríamos desaparecidos nas águas da cachoeira Grande", disse.
Na trilha da Capela, no Parque Nacional da Amazônia, usada por garimpeiros do rio Tapajós, o fotógrafo foi surpreendido por um grupo de antas, mas conseguiu se desvencilhar do atropelamento, correndo para os cantos da mata.
O susto maior aconteceu no Centro de Instrução de Guerra na Selva, em Manaus.
Araquém fotografava onças, quando uma delas correu por trás e lhe deu um abraço pelas costas. "Ainda bem que o abraço foi amistoso", comentou.
(AMG)

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