São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 1997
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'Multimeios' Gomide volta à cena

PAULO VIEIRA
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Um modernista ao qual nunca se deu muita atenção. Menos citado que seu cunhado John Graz, o paulista de Itapetininga Antonio Gomide (1895-1967), pintor, desenhista, escultor, ceramista e designer, é relembrado a partir de hoje, no 30º aniversário de sua morte, por motivações solidamente comerciais.
Uma coleção com 38 obras sobre papel foi comprada pelo galerista Ricardo Camargo antes do último Carnaval. Com mais cinco obras de "amigos", que também colocou à venda, e a edição de um catálogo simples, Camargo montou a exposição.
Além das aquarelas sobre papel, há dois óleos sobre tela na exposição. O conjunto revela, principalmente, paisagens de clara inspiração cubista.
É notória a influência do ambiente parisiense, onde Gomide passou a década de 20. Boa parte das obras em exibição foi produzida nessa década -e nessa cidade.
Em 1924, numa volta à Europa após estudar belas-artes na década de 10 em Genebra, Gomide passou a frequentar os ateliês de Picabia, Picasso, Braque e Lhote.
A exposição traz ainda obras de décadas posteriores. "Prostituta", dos anos 40, e "Favela", de 1959, já mostram um artista buscando caminhos longe da geometrização, um traço mais espontâneo, extremamente preocupado com a figura humana.
Boa parte das obras em exposição não é autônoma. Há muitos estudos em papel, alguns para vitrais.
Ao voltar definitivamente ao Brasil, em 1929, radicando-se em São Paulo, Gomide dedicou boa parte de seu tempo à decoração, projetando vasos e abajures. Também fez vitrais para igrejas. A exposição exibe um estudo para um vitral ("Caçadores") para o parque da Água Branca.
A facilidade para trabalhar com tal "suporte" veio do tempo que viveu em Genebra, onde aprendeu a pintar afrescos.
Com John Graz, Gomide foi um dos precursores do decô no Brasil. O artista desenvolveu preocupações em diversas áreas: mobiliário, cerâmica, estamparia. Um estudo para estamparia está na mostra. Outro deles, revelando a importância desse meio em seu trabalho, pertence ao acervo do MAC.
O galerista Camargo tem uma preocupação prosaica com a mostra: "Quero tentar descolar o Gomide de São Paulo. É incrível como um artista como ele não tenha chegado, por exemplo, a coleções cariocas".

Exposição: Antonio Gomide
Onde: Galeria Ricardo Camargo (r. Frei Galvão, 121, Jardim Paulistano, tel. 011/211-3879)
Quando: seg. a sex., 10h às 19h30; sáb., 11h às 14h. Até 10 de maio
Abertura: hoje, 19h

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