São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 1997
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Para 'reis do campo', não adianta assentar

OTÁVIO DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A propriedade da terra é o menos importante na busca de uma solução para a questão agrária no Brasil, de acordo com grandes produtores rurais ouvidos pela Folha.
Para os "reis do campo", existe terra "de sobra" e barata no país. O mais caro e difícil de obter, dizem, são outros insumos necessários na produção agrícola moderna: infra-estrutura, tecnologia, capital de giro, mão-de-obra e gerenciamento adequados.
Segundo os produtores, "não adianta nada" o governo assentar milhares de sem-terra se não oferecer suporte técnico e financeiro aos futuros proprietários, assim como uma política de desenvolvimento agrícola para o país.
"Sempre digo que metade do Brasil está à venda e a outra metade pode ser comprada", afirmou à Folha o "rei da soja" brasileiro, Blairo Maggi, 41, que colheu 120 mil toneladas de soja em 97.
"A terra só serve como suporte, é o de menos na produção agrícola", diz Marco Raduan, 56, que colheu 16,2 mil toneladas de feijão em 96.
Maggi sustenta que a desapropriação de terras não é o melhor instrumento para o governo conseguir terra para realizar a reforma agrária: "Em geral, as terras desapropriadas ficam distantes dos grandes centros e não servem aos pequenos produtores."
Para ele, "o governo deveria comprar terras próximas aos centros consumidores e às indústrias agrícolas". "A saída para o pequeno proprietário é integrar-se com a indústria alimentícia, que poderá fornecer a ele infra-estrutura e a tecnologia", afirma.
Como exemplo de produção adequada a um sem-terra que se torne pequeno proprietário, ele cita a criação de suínos e de aves.
Ele também considera que o pequeno produtor deve receber subsídios. "O grande produtor tem condições de se virar, desde que os juros internos sejam compatíveis com os do mercado internacional", afirma.
Marco Raduan acha que o governo já tem o instrumento para fazer um "estoque de terras" e realizar a reforma agrária: "O novo ITR (Imposto Territorial Rural) inviabiliza a manutenção de uma fazenda improdutiva. Se o governo aplicar o ITR, terá grande disponibilidade de terras em suas mãos".
Ele acha que o governo deveria arrendar essas terras aos sem-terra: "Nos primeiros três anos, não pagariam nada. Depois, passariam a arrendar."
Raduan só planta em terras arrendadas. "Também sou sem-terra. Arrendar é um negócio mais lucrativo", afirmou à Folha.

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