São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 1997
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CNBB condena privatização da estatal

LUIS HENRIQUE AMARAL
ENVIADO ESPECIAL A ITAICI (SP)

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) anunciou ontem que é contrária à privatização da Companhia Vale do Rio Doce. Em documento oficial, a entidade solicitou ao governo o adiamento do leilão, no dia 29.
O documento é intitulado "Declaração sobre a Vale do Rio Doce - Por um discernimento democrático". Foi aprovado por aclamação pela quase totalidade dos bispos reunidos na 35ª Assembléia Geral da CNBB, em Itaici (bairro de Indaiatuba, a 110 km de São Paulo).
"Não somos técnicos para dizer se a venda da Vale é boa ou não, mas muitos setores científicos se colocam contra a privatização. No momento, somos contra", disse d. Paulo Ponte, arcebispo de São Luís (MA). Segundo o arcebispo, se for realizado um amplo debate, a CNBB poderá mudar de posição.
Desencadeadas por d. Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana (MG), as críticas à privatização da Vale geraram uma crise entre a CNBB e o governo.
Em dezembro, o presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a entidade era contra porque d. Luciano receberia um "dinheirinho" da Vale. Há duas semanas, o ministro Sérgio Motta (Comunicações) repetiu a acusação.
Ética
O documento da CNBB afirma que a entidade se pronuncia "a luz de graves exigências éticas", preocupada com "medidas que hão de afetar, gravemente, e sem retorno, o futuro do país".
"Solicitamos, por isso, com respeito e confiança, à Presidência da República a suspensão do edital de privatização da Vale, a fim de que a Nação disponha de tempo suficiente e de condições indispensáveis para analisar adequadamente a questão e decidir de acordo com o bem comum", afirma o texto.
O documento da CNBB lista quatro "exigências éticas". A primeira afirma que cabe ao Legislativo e à sociedade, e não ao Executivo, determinar a natureza e o "tamanho" do Estado. A segunda afirma que há risco a soberania nacional na venda da Vale.
A divulgação de informações exatas sobre o potencial das jazidas da Vale é a terceira exigência. A quarta é "garantir as condições de participação que a lei faculta à sociedade" sobre a privatização.

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