São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 1997
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A vitória dos "primitivos"

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A audiência que o presidente da República concederá amanhã aos líderes do MST parece configurar a primeira derrota do governo em seus 28 meses e meio de vida.
Basta lembrar que, há apenas dois meses, tanto o presidente como seu então ministro da Justiça, Nelson Jobim, ensaiavam publicamente criminalizar o MST. "É primitivo", disparou FHC, em entrevista concedida na Embaixada do Brasil junto ao Vaticano.
Jobim, por sua vez, anunciava a intenção de denunciar o MST por "incitação ao crime", no pressuposto de que pregar a invasão de terras, como o MST sempre faz, é convidar ao crime.
De fevereiro para abril, o MST não recuou um milímetro. Ao contrário, espalhou o seu "primitivismo" por toda a geografia brasileira, com a sua marcha, que hoje chega ao coração do poder. Não obstante, é recebido não digo com honras, mas com um respeito que, de hábito, as autoridades não concedem aos "incitadores de crimes".
Se essa aparente derrota terá ou não algum significado maior no futuro imediato, só o tempo dirá. O que parece claro, desde já, é que o governo tem uma chance de ouro para dar consequência prática aos discursos sociológicos que o presidente tem feito.
FHC vem dizendo, com frequência, que o governo não pode tudo (o que, aliás, é a pura verdade) e que é preciso que a sociedade se organize, se movimente, para que as coisas aconteçam.
Não está à vista nenhum outro movimento social tão bem organizado quanto o MST nem com tamanha disposição para ganhar a rua. Logo, não há interlocutor mais adequado com quem o presidente possa discutir como avançar em relação ao tema reforma agrária.
O que é, em tese, mais fácil porque o governo também diz ser a favor da reforma agrária e trombeteia, até, que fez, nessa área, mais do que qualquer um de seus antecessores.
Seria um enorme passo à frente se os "primitivos" e o "príncipe" se entendessem.

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