São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 1997
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AS BRUXAS DE SALEM

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Estréia hoje em São Paulo, "As Bruxas de Salem", estrelando Daniel Day-Lewis, Winona Ryder e Joan Allen, indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante.
O filme é baseado na consagrada peça "The Crucible" ("O Cadinho", em tradução literal, 1953), do dramaturgo americano Arthur Miller.
O próprio Miller, 82, fez a adaptação para o cinema, o que lhe valeu uma indicação ao Oscar de melhor roteiro adaptado.
A peça é inspirada na história real de uma perseguição a bruxas e espíritos demoníacos que teriam se manifestado na puritana aldeia de Salem, no estado americano de Massachusetts.
Corria o ano de 1692 quando a semi-escrava negra Tituba foi falsamente acusada de enfeitiçar um grupo de meninas, num suposto ritual de dança e evocação de espíritos demoníacos.
O "ritual", que não passava de uma brincadeira de moças fazendo pedidos de casamento ao fogo, foi interpretado como feitiçaria pelo reverendo da cidade, que flagrou as meninas em ação. As garotas seriam publicamente denunciadas como bruxas e condenadas à forca, especialmente porque duas delas entraram num inexplicável coma após o flagrante.
Para salvar-se da forca, a líder do grupo, Abigail Williams (Winona Ryder), seguindo o exemplo de Tituba, confessa que todas foram possuídas pelo demônio e rogam por salvação. Estabelece-se um pacto entre elas, que se dizem perseguidas por visões em que vários habitantes da aldeia aparecem como praticantes de bruxaria.
O falso sofrimento das meninas comove os juízes religiosos e a comunidade de Salem, que passa a acatar as "revelações" do demônio e a prender arbitrariamente todo e qualquer cidadão denunciado pelas visões das moças.
Começa uma onda de perseguição, vingança e histeria coletiva que leva ao total descontrole a aldeia mergulhada no obscurantismo religioso.
Naquela época, tanto a Inglaterra quanto suas colônias nutriam a crença na intervenção de Deus e do diabo no mundo terreno, manifestando-se este último de várias formas, inclusive por meio de feiticeiros. Sabe-se que na Escócia, entre 1560 e 1600, foram executados 800 bruxos e bruxas, numa média de quatro por semana.
Mas o objetivo final da protagonista de "As Bruxas de Salem", Abigail, é vingar-se de John Proctor (Daniel Day-Lewis), o amante casado que a desprezava.
No filme, a tensão se concentra no desenrolar desse triângulo composto por Abigail, John Proctor e sua mulher Elizabeth (na grande interpretação de Joan Allen), bem como no confronto entre duas mulheres em condições opostas: Abigail representa o mal, o pecado do adultério; Elizabeth é o retrato do recalque feminino sublimado pela fé.
Para dar movimento à história e envolver o espectador no clima de alucinação coletiva, o diretor Nicholas Hytner ("As Loucuras do Rei George") transportou sua câmera para as ruas do que seria a Salem do século 17, valendo-se ao máximo de cenas externas.
A asfixiante atmosfera de intolerância absoluta, pintada no cinza chumbo do figurino, vai num crescendo de processos e julgamentos inquisitoriais até culminar no enforcamento de aldeões inocentes.
Arthur Miller escreveu "As Bruxas de Salem" na época do macarthismo americano, a intensa campanha anti-comunista liderada pelo senador Joseph McCarthy. E ele admite que sua peça tinha mesmo a intenção política de fazer o paralelo entre duas situações sociais semelhantes: de caça às bruxas, intolerância e corrupção da justiça.
O filme, segundo Miller e Hytner, seguiu muito de perto o texto original.
Para o diretor, a história transcende o dado histórico e pode ser comparada com situações sociais contemporâneas, entre elas o fundamentalismo religioso.
O tema da histeria feminina é um dos destaques do roteiro, bem definido no intrincado das relações reprimidas experimentadas pelas moças.
Simbolicamente, a bruxa é fruto da repressão e personifica os desejos, medos e outras tendências da psique que são incompatíveis com o ego. Para Jung, as bruxas são versões femininas do bode expiatório, para quem as mulheres transferem o lado mais obscuro de seus impulsos.

Filme: As Bruxas de Salem
Produção: EUA, 1996
Direção: Nicholas Hytner
Com: Daniel Day-Lewis, Winona Ryder, Joan Allen
Quando: a partir de hoje, nos cines Olido 1, Market Place 2, Lar Center 3, Belas Artes - sala Oscar Niemeyer e circuito

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