São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 1997
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"Don Giovanni" volta em gravação histórica

LUIS S. KRAUSZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

A ópera "Don Giovanni", a história de um dissoluto, de Wolfgang Amadeus Mozart, com "libretto" de Lorenzo da Ponte, apresenta a estrutura de um mito.
A trajetória ascendente do protagonista da composição e seu desfecho trágico retomam um padrão presente nas tragédias clássicas: a "huybris" (transgressão), cuja punição, desde o início, é pressentida em suas funestas consequências.
As cenas se sucedem num "crescendo" de ritmo e intensidade emocional até o desfecho verdadeiramente apoteótico -a cena com o fantasma do Comendador, que leva Don Giovanni à eterna danação no inferno. Nessa cena, o austríaco Wolfgang Amadeus Mozart retomou o tema musical da abertura da ópera. Dessa forma, criou uma correspondência perfeita com a estrutura circular do mito.
Edição histórica
A remasterização de uma gravação quase histórica, de 1969, de "Don Giovanni" acaba de ser lançada pelo selo Decca.
O elenco brilha, sobretudo, por duas personagens femininas: Zerlina, na voz inesquecível de uma Marilyn Horne ainda no auge da carreira de soprano, com sua leveza aveludada e engraçada presença dramática, e Donna Anna, levada à cena pela soprano Joan Sutherland.
A direção é de Richard Bonynge, à frente da English Chamber Orchestra.
Provinda de uma época em que a tendência de interpretações históricas apenas começava a engatinhar, essa leitura tem a sonoridade festiva característica do verismo da Itália.
Hoje, a interpretação pode ofender alguns puristas. Mas impressiona pela qualidade sonora e grandiloquência.
Encontros felizes
É também uma gravação rica em encontros felizes: Don Giovanni, interpretado pelo barítono Gabriel Bacquier, contracenando com Horne em "La Ci Darem La Mano", é antológico.
E o baixo Clifford Grant (Comendador) cria, com Bacquier, um inesquecível "Don Giovanni, a cenar teco".
Menos feliz é a performances da soprano Pilar Lorengar, no papel de Donna Elvira -sua voz frequentemente se torna analasada e perde potência nas notas mais altas. A do baixo Donald Gramm (Leporello) deixa a desejar nos quesitos clareza e amplitude sonora.
Os três CDs da Decca formam a reedição de uma sedutora leitura em tudo clássica, registrando o ponto alto de uma linha interpretativa brilhante -e que parece, hoje, à maneira do próprio Don Giovanni, estar com os dias contados.

Disco: Don Giovanni (caixa com 3 CDs)
Autor: Wolfgang Amadeus Mozart
Com: English Chamber Orchestra (regida por Richard Bonynge)
Intérpretes: Joan Sutherland, Gabriel Bacquier, Marilyn Horne, Pilar Lorengar e outros
Lançamento: Decca
Preço: R$ 54 (em média)

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