São Paulo, sábado, 19 de abril de 1997
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Sem-terra invadem três sedes do Incra no Nordeste

Em Recife, MST pede nomeação de novo superintendente

DA AGÊNCIA FOLHA

Sem-terra ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram ontem as sedes do Incra em Pernambuco e no Ceará.
Em Recife (PE), 1.300 sem-terra participaram, às 11h, da invasão do prédio, segundo o MST. O superintendente interino do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Constantino Ponzo, calculou em 600 o número de invasores.
Cerca de cem funcionários permaneceram detidos no local por uma hora e meia e só foram libertados após enviar ofício à Presidência da República com as reivindicações do movimento.
Não houve confronto e ninguém se feriu. Até o início da noite, a entrada e saída de pessoas do prédio era controlada por homens que portavam facas, foices e pedaços de pau. Os portões permaneciam trancados com cadeados.
Colchões, roupas e bandeiras do movimento foram espalhados no pátio, corredores e salas. A sala da superintendência foi ocupada pelos líderes do movimento.
A Polícia Federal enviou uma equipe ao local, mas os policiais foram barrados pelos sem-terra. Ponzo solicitou que eles retornassem à PF e foi atendido.
"O clima é tenso e há risco de radicalização se a situação não for resolvida rapidamente", disse o líder do MST Jaime Amorim.
O MST quer a nomeação "imediata" do novo superintendente do Incra no Estado, que há um mês vem sendo administrado pelo adjunto, Constantino Ponzo.
Os sem-terra pedem ainda a vistoria de nove áreas invadidas por eles esse ano, a desapropriação de duas fazendas e a contratação de nove equipes para assessorar os colonos nos assentamentos.
Segundo o líder do MST, os trabalhadores rurais -representantes de 32 acampamentos e assentamentos de Pernambuco- estão dispostos a permanecer no local enquanto não tiverem suas reivindicações atendidas.
"Se o governo nomear o superintendente, saímos do prédio e acampamos no pátio. Se os outros pedidos forem aceitos, voltamos para o campo", disse Amorim.
Em Fortaleza (CE), um grupo de 700 sem-terra invadiu, por dez horas, a sede do Incra. Segundo a Polícia Militar, não ocorreram incidentes durante a invasão.
Eles saíram do prédio às 18h, em 11 ônibus cedidos pelo governo cearense, depois de uma reunião com o superintendente do Incra e o secretário de Agricultura do Ceará, Pedro Sisnando.
Na reunião, os sem-terra reivindicaram a imissão imediata da posse da terra para 500 famílias já assentadas e a desapropriação de 50 áreas em conflito no Estado.
O superintendente do Incra, Luís Vidal, disse que se comprometeu em 30 dias a fazer a imissão de posse, apressar o processo de desapropriação e investir R$ 60 milhões nos assentamentos, em 1997.
Em Teresina, no Piauí, cerca de 550 sem-terra também ocuparam a sede do Incra. Segundo Dimas Pereira de Melo, coordenador estadual do MST, os invasores querem que o órgão faça a emissão de posse de cinco áreas desapropriadas. Até as 21h de ontem, cinco funcionários do órgão, entre eles o superintendente-adjunto, estavam fechados em uma sala dentro do instituto e se negavam a negociar com os sem-terra.

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