São Paulo, sábado, 19 de abril de 1997
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Redução não vai criar mais empregos

PAULO AFONSO FEIJÓ
A ingenuidade econômica dos dirigentes do movimento sindical brasileiro, ao quererem aumentar o volume de emprego com a redução da jornada de trabalho, nos leva a pensar que não estão preocupados com os trabalhadores, seus afiliados, mas apenas com as aparências políticas. Entretanto, preferimos pensar que seja apenas um grupo de ingênuos, acreditar na boa vontade deles e levar o caso para o lado do desconhecimento econômico.
A questão econômica que se apresenta é a seguinte: é possível aumentar o volume de emprego pela redução da jornada de trabalho? A resposta é um grande não! Aliás, podem ser tachados de visionários os que pretendem o aumento do emprego com a redução da jornada de trabalho. Isso porque o que gera o emprego é o volume de produção e não o contrário.
O setor supermercadista brasileiro -que emprega, diretamente, algo em torno de 660 mil trabalhadores- sabe que, para aumentar o volume de empregos, tem que investir, abrir novas lojas e/ou vender mais. Quando essas simples normas econômicas são violadas, o emprego, em vez de subir, cai.
Assim, se o governo aceitar a argumentação da CUT de reduzir a jornada de trabalho de 44 horas semanais para 40, em vez de aumentar o volume de empregos, vai reduzi-lo.
Em economia não há almoço de graça. Alguém tem que pagar a conta. E a conta -algo em torno de 9% da folha de pagamento das empresas- terá que ser repassada, em grande parte, aos próprios trabalhadores, seja por meio do rodízio da mão-de-obra (contratação de empregados com salários mais baixos!), seja pela compensação de aumentos abaixo dos índices inflacionários nos dissídios da categoria.
Os sindicatos têm que reconhecer que as regras econômicas são apartidárias. O desemprego no Brasil encontra-se localizado, preponderantemente, na alta inflexibilidade do mercado de trabalho e na excessiva carga tributária que incide sobre os salários do trabalhador brasileiro.
Por paradoxal que pareça, a redução da jornada de trabalho -por decreto!- vai aumentar ainda mais a carga tributária dessa mão-de-obra. E ela é tão alta que o empregador brasileiro paga um salário suíço, mas o empregado acaba recebendo um salário leonês (trabalhador de Serra Leoa).
O fato é que, para aumentar o volume de emprego no Brasil, temos que ir na direção oposta da requerida pelo sindicalismo brasileiro. Temos que dar mais flexibilidade aos contratos de trabalho e reduzir a carga de impostos e taxas que incidem sobre a folha de pagamento do nosso trabalhador.
Quanto mais liberdade for dada ao empregado e ao empregador para contratar, mais empregos a economia vai gerar. Essa é uma regra universal de mercado que nenhum burocrata ou sindicalista conseguirá revogar por decreto. Ao contrário, os decretos geram custos adicionais que oneram as contratações e acabam reduzindo, em vez de aumentar, o volume de emprego.

Paulo Afonso Feijó, 38, é presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados).

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