São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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MST agora pretende comandar oposição

PATRICIA ZORZAN
IGOR GIELOW

PATRICIA ZORZAN; IGOR GIELOW
ENVIADOS ESPECIAIS A BRASÍLIA

Sem-terra planejam novos atos pelo país e avaliam que projeto do PT não vai além da disputa eleitoral

A liderança do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) avalia, após a marcha de dois meses que culminou com o maior ato anti-FHC já ocorrido em Brasília, ter condições de comandar a oposição.
A Folha apurou, junto aos principais líderes do movimento, o projeto político-econômico dos sem-terra. O MST acredita estar pronto para construir o projeto da esquerda brasileira.
Virar partido político, por enquanto, não. "Isso não é uma aspiração nossa. Lutamos por uma questão maior, que vai além dos interesses eleitorais", diz o líder sem terra José Rainha Jr.
Mas o grupo já admite que, ano eleitoral que é, 1998 será pautado principalmente pela discussão da questão agrária no país.
A cúpula do MST vai além: admitiu, informalmente, que deverá ter candidatos próprios na disputa.
PT
O PT deve, para o MST, mudar sua estratégia política. Na avaliação dos líderes sem-terra, o partido de Luiz Inácio Lula da Silva está se concentrando apenas nos fatores eleitorais imediatos.
A posição dos sem-terra pode ser resumida na seguinte frase, segundo a Folha apurou: "Vamos ajudar o PT a construir um projeto alternativo para o Brasil".
Esse projeto não se resume em reforma agrária, assim como indicava na sexta-feira o ideólogo do MST, João Pedro Stédile. "Somos cidadãos preocupados com questões nacionais", disse, referindo-se aos protestos do grupo contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce.
A distribuição de terras, porém, ainda será o mote mais forte e não sairá do topo das reivindicações.
A marcha que reuniu entre 30 mil e 35 mil pessoas, conforme a PM (os sem-terra falam em mais de 50 mil), é considerada pelo MST a prova do poder de aglutinação de forças oposicionistas do grupo.
Logo, o caminho mais natural é assumir o comando ideológico dos principais setores considerados excluídos hoje no Brasil.
"Só os desempregados são 11 milhões. As ocupações feitas pelos sem-teto são mais numerosas que as nossas, mas não têm visibilidade porque não têm comando", afirmou Rainha Jr.
A própria mudança de discurso dos sem-terra em relação à participação de outros setores no protesto de quinta-feira é sintomática.
Na terça-feira, Stédile havia dito que era melhor que todas as categorias protestassem por si próprias. Anteontem, já falava em "união das forças de oposição".
"Nós não fomos usados. Pedimos a colaboração de todos", endossou ontem Gilmar Mauro, um dos coordenadores do MST.
Próximos passos
A estratégia dos sem-terra agora inclui a já anunciada manifestação de 1º de maio, em conjunto com a CUT. O MST pretende levar 20 caminhões de mandioca e despejar na Esplanada dos Ministérios. Deve também haver uma caminhada dentro da cidade de São Paulo.
Para 25 de julho, já planejam uma nova marcha. O percurso é indefinido, mas deve ficar restrito a São Paulo. O ponto de saída será o Pontal do Paranapanema (extremo oeste paulista), principal área de conflito no Estado.

Leia mais sobre a marcha à pág. 1-11

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