São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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Compra de telefone vira jogo de risco

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Comprar um telefone por R$ 1.117,63 com direito a receber ações da Telebrás ou pagar R$ 300,00 pela instalação da linha, sem ficar miniacionista da estatal?
Milhares de paulistanos estão enfrentando esse dilema depois que o Ministério das Comunicações decidiu acabar com a antiga modalidade de aquisição, apelidada de autofinanciamento.
Por enquanto, há apenas um comunicado oficial sobre a mudança. É o mesmo que anunciou a reestruturação das tarifas.
Diz pouca coisa: a taxa de instalação custará R$ 300, entrará em vigor no dia 1º de maio e haverá uma fase de transição de 60 dias.
A própria Telesp aguarda normas detalhadas sobre como vai funcionar a taxa de instalação.
A empresa só confirma que o desistente dos R$ 1.117,63 não perde lugar na fila. Está automaticamente inscrito para a fase da taxa de instalação, a ser paga no futuro.
Mas bastou o ministro Sérgio Motta falar nos R$ 300,00 -na primeira declaração eram R$ 400,00- para o mercado de telefones sofrer novo abalo.
Cálculo difícil
Entre os candidatos à compra de uma linha diretamente da concessionária, a desorientação é geral. Até especialistas têm opiniões divergentes sobre qual a melhor opção de compra nessa fase de transição que deve durar até junho.
Sérgio de Oliveira, gerente do Balcão do Telefone, vê vantagens na compra por R$ 1.117,63, desde que o interessado tenha dinheiro para pagar à vista, sem ter de recorrer a financiamento.
As ações da Telebrás é que fazem a diferença, diz ele, confiando na valorização dos papéis. No mínimo, calcula, as ações renderiam cerca de R$ 900. O telefone sairia quase de graça.
Edmon Rubies, da Bolsa de Telefones, outra empresa que faz a intermediação de negócios nesse setor, também entende que a aquisição casada com ações ainda é a melhor alternativa.
Quanto valem
Rubies reclama que os critérios para definir quantas ações serão entregues um ano depois ao usuário são enigmáticos, mas cita casos de pessoas que compraram a linha em 95 e no ano passado receberam 10.000 preferenciais e 3.000 ordinárias da Telebrás.
Aos preços de Bolsa na última semana, essas ações valiam algo como R$ 1.500. Como o comprador desembolsa R$ 1.117,63 por uma linha no pagamento à vista para a Telesp, haveria aí um lucro.
Heitor Hortêncio Júnior, diretor da Corretora Síntese, não tem a mesma opinião. Até meados de 96, afirma ele, valia a pena desembolsar R$ 1.117,63 porque o critério de conversão do investimento em ações da Telebrás era um só: o valor patrimonial do papel. E a expectativa era de que o preço de mercado superasse o patrimonial, como de fato aconteceu.
Essa regra foi alterada. Agora, a retribuição em ações poderá se basear, a critério da Telebrás, no valor de mercado da ação, quando este for superior ao patrimonial.
Na última semana, Telebrás PN estava em torno de R$ 117 o lote de mil, e ON, de R$ 112, para um valor patrimonial de R$ 87,30 (balanço de janeiro). Se a regra antiga estivesse em vigor, o comprador do telefone por R$ 1.117,63 receberia, por hipótese, 12.800 preferenciais. Com a regra atual, e com base nesses preços, teria bem menos: 9.550.
Acabou a possibilidade de ganhar com a diferença entre valor patrimonial e valor de mercado. Lucro, se vier, será com eventual valorização das ações no futuro. Pagar R$ 1.117,63 de olho nas ações virou um jogo de risco.
As chances de ganho com a própria linha também não são os mesmos. Os preços estão em queda e não há mais a liquidez (facilidade de venda) de antigamente.
Mesmo com esses argumentos Edmon Rubies arriscaria a compra por R$ 1.117,63 porque as ações teriam chances de maior valorização. Ele acha difícil que o desequilíbrio entre oferta e procura de linhas cabeadas em São Paulo acabe em menos de quatro anos.
Não há diferença nos prazos de instalação entre quem paga R$ 1.117,63 já ou R$ 300,00 no futuro. O contrato estipula uma demora de até dois anos. Até agora, nem esse prazo tem sido cumprido.

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