São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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Observatório do mercado de trabalho

WALTER BARELLI

É cada vez mais frequente a afirmação de que este fim de século apresenta mudanças significativas no mundo do trabalho.
Eric Hobsbawn as identifica como uma tragédia histórica, pois quem perde seu posto de trabalho terá grande dificuldade em voltar a desempenhar funções semelhantes.
Como historiador, baseia-se em fatos de seu conhecimento. Repetem-se, ainda, à exaustão, afirmações escatológicas sobre o fim do emprego, na medida em que até mesmo um dos principais pilares da construção da social-democracia, o Estado de Bem-Estar Social, ao exigir elevados custos da seguridade social, encontra dificuldades em minorar os efeitos excludentes da seleção desumana imposta pela hipercompetição.
O processo de trabalho, eliminando os tempos mortos, e as máquinas, assumindo as tarefas repetitivas, multiplicam a produtividade do esforço humano em cada unidade de tempo, e ainda não foram pensadas instituições que cumpram as funções distributivas de renda que o sindicato teve no processo de industrialização.
Torna-se, portanto, imperioso criar um sistema de informações que permita à sociedade tomar decisões sobre rumos e políticas para o novo mundo do trabalho. Em São Paulo, tivemos a felicidade de reunir expressões de todos os setores interessados para instituir o Observatório de Situações de Emprego e Formação Profissional.
O grupo de trabalho conta com a presença das federações patronais, das centrais sindicais, das universidades e escolas profissionais -Senai, Senac, Senar- e de representações governamentais da área do trabalho e da educação.
Os estudos desse grupo já estão adiantados e está se delineando um modelo de pesquisas em que todos os parceiros possam obter informações sobre o estado atual e as tendências do mercado de trabalho.
Recentemente, os organismos do sistema estatístico nacional (IBGE, Seade, Dieese, Fiesp, Ministério do Trabalho) apresentaram aos membros do projeto de observatório o elenco de suas estatísticas e seus projetos, no campo de antecipação do futuro.
É dentro desse escopo que se enquadra o estudo exploratório da Fundação Seade, mostrando a situação atual dos metalúrgicos demitidos no período 1990/1995. Segundo esse trabalho, de cada 100 metalúrgicos que foram dispensados, 15,3% estão aposentados e outros 15,2% estão desempregados. Os demais 69,5% estão empregados, sendo que a maior parte, 31,1%, está na indústria, vindo a seguir a área de serviços, 24,2%, e o comércio, 10,7%. É curioso observar que, de cada 100 metalúrgicos demitidos no período, só 21,6% estão empregados na própria indústria metalúrgica.
Eric Hobsbawn não tinha as informações do Seade, mas antecipou alguma coisa que parece estar se verificando também em São Paulo. Cresce, portanto, a importância do Observatório de Situações de Emprego e Formação Profissional.
Seus produtos devem orientar todos os interessados das áreas governamental, sindical e empresarial. O interesse comum em termos de informações fidedignas faz com que haja a maior colaboração entre todos os parceiros. No passado, instituições patronais ou trabalhistas criaram seus próprios institutos. Hoje, o projeto do Observatório de Situações de Emprego conta com a contribuição coletiva, com o único interesse de decifrar essa esfinge, que é o futuro do emprego.

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