São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 1997 |
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Palavras, palavras
NELSON DE SÁ
Uma "perversidade", um ato "gravíssimo e intolerável", que causa "indignação, ira, revolta", seguiu o ministro-interino da Justiça, também na Globo News. O presidente da República se disse "horrorizado". A cada tragédia brasileira, em rotina diária, as palavras se mostram mais gastas. Jovens de classe média, segundo a Globo, rapazes ricos, segundo um líder indígena, todos "filhos" do poder, atearam fogo ao corpo de um índio pataxó que dormia num ponto de ônibus. Foi à capital participar de ato no Dia do Índio, horas antes, diante da Funai. Dormia exposto, disse o líder, porque "a Funai mandou fechar os pensionatos". A sensação, poderiam dizer sempre, é de "vergonha", mas até a vergonha nacional torna-se retórica, ultimamente. Foi o que disse o ministro-interino da Justiça, em meio às palavras todas: - Fatos como este envergonham de modo profundo a sociedade brasileira... "Vergonha" foi também o que disse o governador de Brasília, atento à "honra" da cidade e à "repercussão" internacional. (Para o seu alívio, quem sabe, a CNN nada registrou, ontem.) Mas fazer o quê, além de falar, e esquecer? O pai do índio não usou um adjetivo sequer para rogar, com simplicidade, na Globo: - A gente pede justiça. * - O nosso querido presidente Fernando Henrique tem sua preocupação voltada para o "pacotão" do bem... Ele deixa claro: o povo brasileiro deve ser tratado com respeito e muita segurança... Tudo o que vemos no governo demonstra que estamos no rumo certíssimo para um Brasil próspero e muito seguro... Texto Anterior: Itamar começa sua campanha em julho Próximo Texto: Centralização é alvo de críticas Índice |
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