São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vale repara cidade por dano ambiental

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CATAS ALTAS (MG)

Os recursos que a Companhia Vale do Rio Doce destina aos municípios onde atua muitas vezes acobertam danos ambientais causados pelas principais atividades da estatal em Minas Gerais: a exploração do minério de ferro e o transporte ferroviário.
Os próprios municípios beneficiados com os programas de apoio às comunidades admitem os prejuízos ambientais. "O que a Vale faz (as compensações) inibe a gente de falar", diz o prefeito de Catas Altas (a 117 km de Belo Horizonte), José Hosken (PSDB) -o "seu Juca", como prefere ser chamado.
Essas compensações vêm de um fundo formado por 8% do lucro da estatal, que são aplicados nos municípios de influência da Vale.
O dinheiro é usado para construir e reformar hospitais, escolas e igrejas, além de servir para obras de recuperação ambiental.
"Não podemos nos queixar. Por isso sou contra a privatização", afirma o prefeito, mesmo criticando o assoreamento (obstrução) dos dois principais córregos que cortam Catas Altas. A estatal deve ser privatizada no próximo dia 29.
O secretário de Obras e presidente do Conselho de Defesa do Meio Ambiente de Santa Bárbara, Carlos Magno de Melo, também critica o assoreamento em função das obras da variante ferroviária Capitão Eduardo/Costa Lacerda, mas defende as compensações.
"Existe um dano irreversível. Então, ameniza o estrago", diz Melo, que defende as medidas apenas para o setor ambiental.
Modestino Fernandes (PDT), vice-prefeito de Caeté, onde a Vale opera uma mina de ouro, além da ferrovia, tem o mesmo pensamento: "É inegável a degradação, mas o programa é importante".
Caeté (50 km de Belo Horizonte) também convive com danos em um córrego, em função das atividades da Vale no município.
Privatização
O fim da política compensatória poderá significar dificuldades para a nova Vale, caso o comprador da estatal não siga à risca um programa de preservação ambiental. Pelo menos é o que garantem os administradores municipais.
"Com a venda, não vai haver mais o empréstimo a fundo perdido. Isso é péssimo para o município", diz Fernandes, que defende um tratamento "mais duro" com as mineradoras. "Seu Juca" também prevê dificuldades: "Sei como funciona a empresa privada. Não dá nada, só uma banana".
O secretário Melo, de Santa Bárbara (105 km de Belo Horizonte), espera um relacionamento melhor: "Existem empresas que foram privatizadas e melhoraram a relação com o meio ambiente. Espero que com a Vale isso ocorra".
Temendo o fim da política compensatória, alguns municípios recorreram à Justiça para cobrar da estatal reparação por prejuízos ambientais. Itabira quer R$ 1,085 bilhão em função de prejuízos irreversíveis ao meio ambiente.
Resplendor, Conselheiro Pena e Ituêta alegam problemas de saúde na população e danos ambientais. Elas pedem o bloqueio de 10% do valor apurado com a privatização.

Texto Anterior: Relator prevê 'carnificina na votação da reforma na Câmara
Próximo Texto: Estatal é autuada 2 vezes em 97
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.