São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 1997
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Era brincadeira, diz advogado

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Quatro dos cinco autores do crime, maiores de idade, podem ser condenados de 30 a 12 anos.
Eles serão indiciados por crime hediondo -por ter sido ação em grupo-, por tentativa de homicídio doloso (intencional) qualificado -por motivo fútil e uso de fogo-, além de corrupção de menores, porque o quinto integrante do grupo tem 16 anos.
Os quatro autores maiores de idade foram transferidos na noite de ontem do 1ª DP para a Coordenação de Polícia Especializada, local mais seguro. A polícia temia ocupação do prédio por índios ou agressões dos outros presos.
O menor G. estava ontem à tarde na Delegacia da Criança e do Adolescente e deveria ser encaminhado para um centro de reclusão de adolescentes infratores, por recomendação judicial. A pena dele depende de processo especial.
Só o pai de Antônio Novély de Vilanova -o juiz federal Novély Reis- esteve na delegacia para ver o filho. Nenhum parente dos demais havia aparecido até as 21h.
A polícia quer verificar se os cinco têm envolvimento com dois ataques contra mendigos ocorridos em 96 -porque, naqueles casos, as vítimas foram queimadas.
Em seus depoimentos, os quatro contaram a mesma história: Antônio Novély entrou no Monza, dirigido por Max Rogério Alves. O carro tinha um adesivo no parabrisa dianteiro com os dizeres "Ministério Público Federal - Procurador da República". A origem do carro era desconhecida até ontem.
Eles acharam duas garrafas com líquido inflamável, que disseram desconhecer. "Alguém, ou todos, teve idéia de atear fogo no cobertor de um mendigo para ele sair correndo", disse Max.
Eron assume que foi ele quem jogou o líquido nas pernas do índio -que eles pensavam ser um mendigo. Eron afirma que foi ajudado pelo menor G. -o que os outros três maiores não confirmaram.
Todos concordaram que Max, Tomás e Antônio riscaram e atearam fósforos sobre o cobertor que cobria Santos. Ao ver o fogo, eles correram.
Para o delegado Valmir Carvalho, da 1ª DP, o fato de trocarem de carro -o Monza por um Honda Civic- para cometer o crime e usarem um líquido que estava previamente no carro -ou foi colocado- indica premeditação.
Brincadeira
O advogado Rommel Parreira Corrêa, defensor de três acusados, classificou ontem como "uma brincadeira que resultou em tragédia" o ataque ao índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, 44, provocado por cinco estudantes.
Corrêa disse ter ouvido de dois acusados ontem na 1ª Delegacia de Polícia de Brasília a versão segundo a qual o episódio foi uma brincadeira. Isso teria sido contado por Tomaz Nader Almeida, 19, e Eron Oliveira, 18, que são primos.
"Eles contaram que jogaram alguma coisa, de brincadeira, mas ainda não está claro como o índio entrou em combustão", disse o advogado. "Eles disseram que não sabiam que a vítima era índio." Para o advogado, G, 16, deve responder ao processo em liberdade por ter menos de 18 anos.
Ele acredita que há atenuantes para os demais acusados por serem menores de 21 anos de idade. Segundo ele, os acusados terão suas penas atenuadas porque são réus primários e possuem bons antecedentes criminais.

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