São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 1997
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Bancos descartam guerra de tarifas já

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos não estão apostando na deflagração imediata de uma guerra de preços e tarifas com a entrada do HSBC (Hongkong and Shanghai Banking Corporation) no varejo bancário brasileiro.
Esse mercado é caracterizado por bancos com grandes redes de agências, que operam com pessoas físicas e pequenas empresas.
As demonstrações de agilidade do grupo estrangeiro que adquiriu o Bamerindus excitaram o mercado. Mas os especialistas divergem sobre a velocidade dessa disputa.
A carta mensal da LCA Consultores, dos economistas Luciano Coutinho e Luiz Gonzaga Belluzzo, diz que "nada indica que o HSBC vá iniciar uma disputa acirrada em preços com as demais instituições, quando pode se beneficiar das elevadas barreiras à entrada (de bancos estrangeiros) no setor, que continuam vigorando".
Roberto Setubal, presidente da Febraban (que reúne os bancos), acha que a concorrência no varejo vai crescer num processo gradual. O Bradesco concorda com a análise de Coutinho e Belluzzo.
Numa linha oposta estão Erivelto Rodrigues, sócio-diretor da Austin Asis, e Carlos Daniel Coradi, presidente da EFC (Engenheiros Financeiros & Consultores).
Para esses analistas, a experiência internacional e o porte do HSBC indicam que o mercado bancário brasileiro -caracterizado por ineficiência e custos elevados- sofrerá um forte impacto no curto prazo. Procurado pela Folha, o HSBC-Bamerindus não se manifestou.
Transição gradual
"A competição está crescendo, independentemente da presença de bancos estrangeiros", diz Setubal. "Não tenho dúvidas de que o sistema brasileiro vai passar por uma fase de reorganização, mas o processo no setor de serviços não acontece da noite para o dia. Não se podem importar serviços", diz.
Para Setubal, a melhoria a ser feita é na parte da intermediação financeira. "Os bancos estão investindo e desenvolvendo técnicas de administração de créditos, gerenciamento de ativos, para obter mais eficiência", diz.
Segundo a LCA, a experiência dos últimos anos mostra que o aumento da concorrência em preços não é tão evidente assim.
"A elevada inércia dos depositantes e usuários do sistema bancário -reforçada pela ainda pequena resposta dos consumidores a diferenciais de preços nesse setor- dá margem para os bancos administrarem uma transição gradual para menores custos dos serviços bancários", diz a LCA.
"O grosso do ajuste dos bancos deverá se dar pelo aumento do volume de negócios e não pelo corte de custos, que deverá continuar lento", diz a LCA.
A disputa está acirrada entre os bancos de atacado (que operam com grandes empresas em fusões, aquisições e privatizações). Nesse mercado, as barreiras à entrada de bancos estrangeiros são muito menores e é elevada a sensibilidade dos clientes a diferenças de preços.

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