São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 1997
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Resumindo, foi a tática a serviço da técnica

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Tudo pode ser resumido neste lance de bola parada: aos 36min do segundo tempo, já com 5 a 1 no lombo, o técnico palestrino, Márcio Araújo, manda entrar o zagueirão Júnior no lugar do artilheiro Luizão. E justifica: "É pra evitar o ridículo".
Pobre Márcio Araújo, que não percebeu a dimensão do que estava acontecendo, na noite mágica de Sabah. O Palmeiras nem sequer roçou o ridículo, nem tal risco correria se o Corinthians tivesse chegado aos 10 a 2 que as chances desperdiçadas naturalmente lhe confeririam, ao fim de um clássico que já virou história.
Não cabe o ridículo num épico. Tragédias, dramas, atos de extremo heroísmo, poesia, sim, pois é com esses panos que se vestem vitoriosos e derrotados. E o que viveu o Corinthians na noite de sábado foi um momento épico de sua gloriosa história.
Desde aquele Palmeiras do início da temporada passada, não se via uma equipe exibir um futebol tão leve, envolvente, agudo, solidário e irresistível como o desse Corinthians de Nelsinho que goleou o líder, até então invicto, Palmeiras, por 5 a 2.
Vou além: o Palmeiras nem sequer caiu diante do Corinthians. Ficou ali, ereto, a um palmo do chão, imantado pelo encanto alvinegro semeado em cada metro do gramado. Isso não é ridículo. É soberbo.
*
Tempos atrás, numa roda, discutia-se quem era mais genial com a bola nos pés -Djalminha ou Giovanni. Chamado a opinar, Marcelinho foi incisivo, como um de seus tiros fatais: "Souza. Ele faz com a bola o que quer". Para Marcelinho, a bola não passa de uma extensão do pé esquerdo de Souza.
Rolou no silêncio da roda eloquente não. Afinal, apesar do reconhecimento geral das habilidades de Souza, eis um jogador que parecia fadado a mergulhar no esquecimento do sono profundo que adormecia seu talento em campo.
Sábado, quando o vi penetrando em altíssima velocidade área adentro, para tentar colher em vão um cruzamento mortal de Donizete, demorei para identificá-lo.
Na verdade, há quatro ou cinco rodadas que ronda este espaço. Sobretudo, depois do naufrágio do meio de semana, diante do Atlético-PR, pela Copa do Brasil, quando apenas ele conseguiu emergir do desastre, intacto.
Só queria dizer que, se continuar assim -ativo e incontrolável-, Souza não só dará razão ao seu ilustre companheiro Marcelinho como criará mais uma dúvida atroz em Zagallo.
*
Sortilégios à parte, o que realmente aconteceu no plano terreno do confronto tático entre Palmeiras e Corinthians? Basicamente, o Corinthians optou por jogar com dois volantes com vocação de meias -Silvinho e Fábio Augusto-, contra três cabeças-de-área clássicos do inimigo -Galeano, Leandro e Marquinhos.
Assim, teve habilidade para, quando da criação das jogadas lá atrás, contornar a muralha de três combatentes típicos, atacando o inimigo pelos flancos, reforçados pelas presenças de Marcelinho, pela direita, e de Souza, pela esquerda, o que deu sustentação ao apoio dos laterais Rodrigo e André.
Resumindo: foi a tática a serviço da técnica.

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