São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 1997
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Pilobolus tira efeitos plásticos do corpo

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Pilobolus Dance Theater, que inicia temporada em São Paulo no próximo dia 9, já pode ser considerado um clássico da dança moderna norte-americana.
Fundado em 1971 por um grupo de estudantes da Universidade de Dartmouth, nos Estados Unidos, o Pilobolus gerou os grupos Momix e Iso, igualmente conhecidos do público brasileiro por meio do Carlton Dance Festival.
Fiel à sua proposta original, o Pilobolus ainda faz do corpo humano o maior gerador de efeitos plásticos de seus espetáculos (enquanto o Momix e o Iso se associaram a artifícios técnicos externos).
No entanto, o Pilobolus conseguiu manter o frescor dos primeiros tempos, com suas peças divertidas e inteligentes.
"Acredito que continuamos fazendo sucesso porque nossos espetáculos são produtos de um grupo e não de um único autor", diz Michael Tracy, que ingressou na companhia em 1974 para se tornar um de seus diretores, além de integrar o elenco de seis intérpretes.
"Nosso processo criativo inclui muitas idéias vindas de formações, gostos, interesses e sensibilidades artísticas diversas", explicou Tracy à Folha, em entrevista por telefone de Connecticut, EUA, onde o grupo está sediado.
"A diversidade enriquece nosso trabalho. Além disso, somos meio 'naives'(ingênuos), não temos uma formação tradicional em dança, viemos dos esportes e desenvolvemos um vocabulário próprio", acrescenta Tracy.
Robby Barnett, um dos fundadores do Pilobolus, afirma que a falta de vínculos com qualquer escola da dança moderna norte-americana fez com que o grupo "organizasse coreografias puramente em torno dos movimentos que os integrantes tinham condições de fazer juntos".
"Basicamente, nossas danças se faziam através das diferentes maneiras como um apoiava o outro e dos movimentos que desenvolvíamos em grupo. Nesse sentido, fazíamos oposição a uma dança individual", explica Barnett.
"Só depois de muitos anos percebemos que realizávamos as chamadas parcerias. A partir dessa espécie de método de combinações corporais, começamos a fazer danças, sem uma pré-concepção do que era a dança moderna. Tudo o que queríamos era nos sentir estimulados. Na verdade, procurávamos expressar nós mesmos através de formas muito concisas de movimento", prossegue Barnett.
Tendo o bom humor como uma de suas características, o Pilobolus retirou seu nome de uma espécie de cogumelo que muda de forma de acordo com a luz
Nada melhor para expressar as composições formais inusitadas e extremamente inventivas, produzidas por corpos que se entrelaçam, se sobrepõem, num emaranhado que confunde e encanta o olhar.
Como metais em fusão, os corpos dos integrantes dos Pilobolus se misturam a tal ponto que, por vezes, não se sabe a quem pertence tal cabeça ou tal pé.
Com o mínimo de acessórios e valendo-se principalmente dos efeitos de iluminação, o Pilobolus renovou a concepção plástica da dança moderna.
"Temos senso de humor sobre nossas vidas e nosso trabalho, e isso é transportado para o palco. Acho que o público aprecia isso", comenta Tracy.
Por sua vez, Robbie Barnett aponta outro segredo do Pilobolus: "Sempre nos interessamos pelo movimento puro, pela excitação do caráter atlético dos movimentos, aos quais demos um tratamento que também tem relações com o circo. A partir daí, exploramos diferentes maneiras de contar histórias".
Após 25 anos de carreira, Tracy e Barnett reconhecem que pouca coisa mudou.
"Essencialmente, nos tornamos melhores coreógrafos. Como não tínhamos um vocabulário clássico, tivemos que aprender por nossa conta."
Segundo Barnett, o Pilobolus nunca se enquadrou em técnicas específicas. "Martha Graham, por exemplo, desenvolveu uma técnica que permitia aos bailarinos se moverem de acordo com estruturas que ela estabeleceu. Nós, ao contrário, iniciamos uma nova coreografia preservando a espontaneidade, como se fosse a primeira vez que fazemos dança."
Hoje, além de criar espetáculos, o grupo se dedica ao Pilobolus Institute, onde difunde sua filosofia.
"Desde 1990, o instituto faz parte de nossa companhia. Realizamos uma gama de atividades que inclui aulas para crianças, workshops, master classes, dirigidas tanto para quem faz dança quanto para não-dançarinos."
Paralelamente, o Pilobolus ainda vem participando de produções com outros grupos. Em 1992, co-dirigiu o espetáculo "Ophelia", para o Teatro Nacional de Surdos dos Estados Unidos.
"Mas, fundamentalmente, somos uma companhia de turnê. Vivemos em uma área rural de Connecticut, em Washington. Nosso cotidiano inclui vacas pastando perto de nossas casas. Nos dividimos entre esta paisagem e as viagens. No ano passado, viajamos durante 23 semanas para realizar mais de 120 apresentações. Nesse meio tempo, temos produzido de duas a três novas coreografias por ano", conta Barnett.

Espetáculo: Pilobolus Dance Theater
Quando: dias 9 e 10, às 21h e dia 11, às 17h
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (Pça Ramos de Azevedo, s/nº; tel. 222-8698)
Quanto: R$ 10,00 e R$ 50,00

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