São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 1997
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Balé francês traz "Giselle" a São Paulo

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A versão integral de "Giselle", que o Ballet National de Nancy et de Lorraine apresenta quarta e quinta-feiras em São Paulo, promete reviver a tradição da escola clássica francesa.
É o que garante Pierre Lacotte, 65, coreógrafo e atual diretor artístico da companhia, reconhecido internacionalmente como um dos maiores especialistas na remontagem de obras clássicas.
Respeitado inclusive na Rússia, onde já foi convidado para remontar balés históricos, Lacotte iniciou sua carreira como bailarino do Ballet da Ópera de Paris.
Depois de fundar, em 1946, o Ballet da Torre Eiffel, mudou-se temporariamente para Nova York, onde atuou como primeiro bailarino do Metropolitan Opera House, de 1956 a 1957.
Eterno romântico, Lacotte diz que resolveu preservar o patrimônio clássico porque temia que tais obras desaparecessem.
"Tomei a responsabilidade de defender o repertório clássico e romântico porque adoro os balés daquele período e também por achar importante cultivar obras que fazem o ser humano sonhar."
Lacotte começou a desenvolver sua profunda cultura sobre os clássicos já na juventude. "Além de ter dançado todo o repertório clássico na Ópera de Paris, trabalhei com grandes professores, como Gustav Ricaux (1884-1961), que formou nomes como Roland Petit e Jean Babilée."
Para reunir suas inúmeras anotações sobre estilo, detalhes como a lentidão ou rapidez dos passos, ou ainda a harmonia específica das obras antigas, Lacotte também se valeu do convívio com Lioubov Egorova (1880-1972), bailarina e professora russa que havia trabalhado com Marius Petipa, coreógrafo de obras como "O Lago dos Cisnes".
"É preciso captar inclusive os mistérios dos clássicos quando se quer remontá-los", observa Lacotte, cuja remontagem de "Gisele" é muito próxima do original.
"Há muitos documentos sobre 'Giselle', um balé que nunca deixou de ser encenado desde sua estréia em 1841, no Teatro da Academia Real de Música de Paris."
Hoje, à frente do jovem elenco do Ballet de Nancy, Lacotte exige total empenho dos bailarinos dispostos a interpretar heróis do século passado.
"Um bailarino atual que deseja dançar um papel romântico tem de abstrair o que somos hoje para poder transmitir o que fomos no passado. É preciso retraduzir dentro de si toda uma maneira de ser, no sentido de captar um estilo de época. Andar de maneira moderna e realizar gestos duros são minúcias que fazem perder todo o clima de uma obra antiga."
A sintonia de Lacotte com a tradição não significa ignorar as releituras contemporâneas dos clássicos. Desde que tais versões beirem a genialidade.
"Há muitas releituras estúpidas. Para transformar um clássico numa obra menor, é melhor fazer outra coisa. Até agora, só o coreógrafo sueco Mats Ek conseguiu realizar releituras extraordinárias de 'Giselle' e 'O Lago dos Cisnes'."
Contudo, desde que assumiu a direção do Ballet de Nancy em 1991, Lacotte não se resume ao repertório clássico. Para desenvolver a versatilidade do elenco, ele também promove a interpretação de autores contemporâneos.
Na temporada brasileira, ele pretende mostrar o ecletismo do Ballet de Nancy no programa de sexta-feira, que reúne as coreografias "Tema e Variações" e "Tchaikovsky Pas-de-Deux", de Balanchine (1904-1983); "Adagietto", do argentino Oscar Araiz (autor de "Maria Maria", obra que lançou o Grupo Corpo), além de "Sinfonia em Ré", do tcheco Jiri Kylian.
O mesmo programa ainda reúne obras de jovens autores, como "Stetl", do inglês Richard Wherlock, e "L'Ephémère", do francês Norbert Schmuki, que utilizou música do compositor brasileiro Manuel Varella.
A presença brasileira na temporada do Ballet de Nancy ainda inclui a bailarina Ana Gonzaga, que interpretará a rainha das Willis no segundo ato de "Giselle".
Como estrela, o Ballet de Nancy traz o bailarino russo Andrei Fedotov, que dançou no Ballet Bolshoi de Moscou e trabalhou com Rudolf Nureyev no Teatro ala Scala de Milão.
Depois de dançar em São Paulo, o Ballet de Nancy se apresentará em Porto Alegre (dias 26 e 27, no Teatro do Sesi) e Teatro Municipal do Rio, dias 29 e 1º de maio. (AFP)

Espetáculo: Ballet National de Nancy et de Lorraine
Quando: quarta e quinta-feiras, 21h ("Giselle"); sexta, 21h (programa contemporâneo)
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (Pça. Ramos de Azevedo, s/n; tel. 011/222-8698)
Quanto: R$ 10,00, R$ 20,00, R$ 40,00, R$ 60,00 e R$ 80,00

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