São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 1997
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Erro marca relação branco-índio

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

As relações entre os brancos e os índios começaram com um erro e assim persistem.
Os nativos das Américas foram chamados de índios porque alguém acreditava erroneamente que o novo continente fazia parte do extremo leste da Ásia. O equívoco só foi desfeito por Américo Vespuccio por volta de 1500, mais de 15 anos depois de Colombo ter aportado na ilha de Hispaniola, em 1492. O nome, contudo, ficou. E não foi o único e muito menos o mais grave dos erros.
No ano de 1519, Hernán Cortés foi enviado pela coroa espanhola para conquistar o México. Foi recebido pelo rei asteca Montezuma 2º como um deus. Foi seu grande erro, que custou-lhe a coroa e milhares de vidas.
Também nas trocas entre novo e velho mundo os índios levaram desvantagem. Receberam dezenas de doenças que lhes eram fatais (sem falar nas bebidas destiladas, cujos efeitos deletérios se fizeram rapidamente sentir) e cederam a batata (que rapidamente se tornou uma das principais fontes de nutrientes para os europeus), o tomate (para glória da culinária italiana) e o saboroso chocolate.
A vingança indígena foi relativamente suave, embora duradoura. Os colonizadores levaram consigo a sífilis e o tabaco, embora os efeitos nefastos deste último só tenham sido descobertos mais tarde.
Para não dizer que os europeus apenas tiraram coisas, é importante ressaltar que alguns dos frutos tão tipicamente "americanos" como o coco, a banana, a manga e a cana-de-açúcar foram trazidos das Índias (as verdadeiras).
Também é verdade que, diferentemente dos negros, os índios não foram literalmente escravizados, mas o sistema de trabalho "voluntário" que lhes foi geralmente imposto é mais questão de definição linguística do que de conteúdo.
Por maior que tenha sido a vontade, surgida neste século, de reparar as injustiças cometidas, parece que o ciclo de erros é inquebrantável; afinal, os jovens delinquentes de Brasília apenas confundiram o índio com um mendigo.

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