São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 1997
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O Rappa mostra 'som social' em SP

CASSIANO ELEK MACHADO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Não é reggae, não é rock, não é rap, não é pop.
Com um pouco de cada um desses ritmos na bagagem e influências tão distintas quanto os camelôs e João Saldanha, os integrantes do grupo O Rappa mostram hoje em São Paulo que "o mal do urubu é pensar que o boi tá morto".
O bovino em questão é o "povão", personagem central das músicas do quinteto carioca, que, dentro e fora de estúdio, faz "tudo pelo social".
O termo "rapa" designa o policial caçador de camelôs, o "inimigo público número um da economia informal".
Os integrantes do O Rappa fazem o inverso. Há dois anos, os músicos do grupo têm conduzido um trabalho de educação musical, em conjunto com a organização não-governamental Afro Reggae, na favela do Vigário Geral.
Um dos garotos "garimpados" nesse trabalho, o percussionista Paulinho Negueba, deve acompanhar o conjunto hoje no Florestta.
"Nesse trabalho com as crianças do Vigário podemos ver que elas sorriem pouco. São crianças marginalizadas", conta o guitarrista da banda, Xandão.
Em vez de tentar arrancar dessas crianças sorrisos de Tiririca, o quinteto aposta em uma sonoridade áspera.
O guitarrista explica que a agressividade de muitas das letras do grupo vem, muitas vezes, mesclada com uma sonoridade melódica.
É o caso de "Hey Joe", canção imortalizada por Jimi Hendrix, que ganhou versão em português em "O Rappa Mundi", gravada com a participação do cantor Marcelo D2, do grupo Planet Hemp.
Em outras recriações, o quinteto recupera músicas como "Vapor Barato", de Waly Salomão, e "Ile Ayê", de Paulinho Camafeu.
Caranguejo antenado
Uma das influências mais fortes do O Rappa é o mangue beat. Segundo Xandão, "falamos das mesmas coisas que eles, mas de forma diferente. Eles trazem para a música o caranguejo, mas é o caranguejo antenado com a parabólica". Assim como as bandas Mundo Livre S.A. e Nação Zumbi, com as quais O Rappa se apresentou recentemente, o grupo valoriza o "jogo de cintura", a habilidade de se alimentar com sobras, "tirar arte da sucata".
Contrariando o dito "quem pode, pode", O Rappa inova ao alongar a batida de uma música, "Óia o Rapa", para oferecê-la aos que quiserem sampleá-la. Em troca, pedem que seja feito um donativo a uma das 13 organizações não-governamentais estampadas no encarte do CD.

Show: O Rappa
Onde: Florestta (r. Funchal, 500, Vila Olímpia, zona oeste, tel. 011/820-9235)
Quando: hoje, às 22h
Quanto: R$ 25 (consumação mínima)

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