São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 1997
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Maura Baiocchi revela Artaud Momo

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

A partir de textos do poeta e idealizador do teatro da crueldade, Antonin Artaud, de poemas dos livros egípcio e tibetano dos mortos e da experiência da "performer" Maura Baiocchi foi desenvolvido o espetáculo "Artaud - Onde Deus Corre com Olhos de Uma Mulher Cega", que estréia hoje no Centro Cultural São Paulo.
A personagem central é uma mulher cega, interpretada por Baiocchi. "Ela é uma personagem híbrida. É uma mulher, mas também é um deus e um palhaço", afirma ela. Para elaborar a peça, Maura Baiocchi buscou a alegria de Artaud, seu lado de palhaço, de Momo. Ela também se cercou de várias referências e significados encontrados durante sua pesquisa.
"Artaud se referia a si próprio como um Momo, que pode ter vários significados. Pode ser o bufão, a criança, uma múmia (significado que viria do francês, e que se referiria ao fato de ele ser muito magro, doente), ou então pode ser uma referência a Momos, o deus que preside cerimônias teatrais da Grécia Antiga, ou ainda Momo, a deusa sarcástica e mentirosa, filha de Zeus com a Noite, que incitou a guerra entre Ocidente e Oriente."
Associando todas as referências, Maura Baiocchi centrou a pesquisa no riso trágico de Artaud. "Artaud é masculino e feminino, é bom e mau, é feio e bonito. Ele é a partida para ampliar os limites. A mulher cega também tem a sua razão. Pessoas cegas enxergam de outra maneira", disse ela.
A mulher cega se submete a um ritual para adquirir uma nova forma. Esse ritual é dirigido por três personagens, os íncubos, que agem de forma invisível. Íncubos são demônios que perturbam o sono (a escuridão) da mulher cega, lhe causando pesadelos.
"Onde Deus Corre com Olhos de Uma Mulher Cega" é o espetáculo que abre a série "Diálogos (Des)Encantatórios", formada por três trabalhos de Maura Baiocchi (que continua com "Histórias que os Ossos Cantam" e "Matéria").
"Onde Deus..." mistura dança, texto e expressão corporal. "Venho da dança e de observações do circo e do contorcionismo. Estudei de balé clássico até butô, mas não me fixo em nenhum deles. Sou autodidata. Crio a minha própria técnica. A emissão da voz, por exemplo, para mim é também movimento", disse.
A coreografia é improvisada. "Não decoro texto, não decoro coreografia. Mas tenho total domínio sobre o que quero dizer e mostrar", afirmou ela.
O mais importante para ela é criar o seu próprio estilo mas não se deixar cristalizar nele. "Isso implica dinâmica, questionamento das descobertas", afirma a "performer", que batizou sua técnica de Taanteatro.

Peça: Artaud - Onde Deus Corre com Olhos de Uma Mulher Cega
Autoria e direção: Maura Baiocchi
Com: Maura Baiocchi, Valter Fellipe, Eliana Santana, Wolfgang Pannek
Quando: estréia hoje, às 21h30; ter e qua, às 21h30; até 21 de maio
Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 277-3611, ramal 250)
Quanto: R$ 8

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