São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 1997
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A Índia pode virar superpotência em software

BILL GATES

Pergunta - O que você prevê para o futuro da indústria de software na Índia? Amit Sharada, Índia (oberoil@giasd101.vsnl.net.in).
Resposta - Depois de fazer uma viagem à Índia, há pouco, recebi muitas perguntas de teor semelhante ao dessa. A indústria do software vai criar milhões de novos empregos nos próximos anos.
Mais do que qualquer outro país em desenvolvimento, a Índia está aproveitando essa oportunidade e vai tornar-se uma gigantesca exportadora de especialização em software.
Na verdade, é bem provável que a Índia vire uma superpotência do software.
A indústria indiana de software já emprega centenas de milhares de pessoas e está crescendo muito rapidamente.
O sistema de ensino do país produz grande número de engenheiros de software altamente qualificados, que formam a espinha dorsal das iniciativas de alta tecnologia da Índia.
Voltei de minha visita recente impressionado não apenas com as companhias indianas de software, tais como a Ramco, a Wipro, a HCL, a TCS e a Infosys, mas também com o ensino universitário nacional e a determinação manifestada pelos líderes empresariais e políticos indianos em colher os benefícios da revolução da informática.
Há pouco tempo, a Índia aboliu os impostos sobre a importação de software. Vários anos atrás, o governo deu fim a um sistema de licenciamento mal concebido, que estrangulava o mercado, limitando o número de empresas nacionais autorizadas a produzir software.
A Índia também vem progredindo em frentes mais amplas. Os níveis de alfabetização estão subindo, e os índices de crescimento populacional, caindo. O clima reinante é de um otimismo bem perceptível.
Apesar disso, porém, o país enfrenta desafios sérios, tais como a má infra-estrutura de comunicações e a existência de leis que, apesar de bem-intencionadas, atrapalham o trabalho dos novos empresários empreendedores.
Por exemplo, há uma lei que proíbe a demissão de funcionários e a falência de empresas. À medida que seus sistemas tecnológico, político e econômico forem modernizados, o progresso da Índia vai se acelerar.
Algumas empresas de países desenvolvidos estão começando a pensar na Índia como fonte de desenvolvimento de software de alta qualidade e baixo custo.
As companhias de software indianas são bem adequadas a projetos como o "Ano 2000", esforço maciço para conseguir fazer com que os computadores centrais de empresas compreendam que o ano que virá depois de "99" é o ano 2000, e não o de 1900.
Um aparte: não se trata de um problema menor. Uma data incorreta pode afetar os cálculos de coisas como pensões e aposentadorias, por exemplo.
Embora algumas companhias indianas, como a Ramco, produzam softwares embalados para o consumidor, prevejo que a maior parte do talento indiano de programação será aplicado na criação de software adaptado para empresas.
Não chega a surpreender, já que, mesmo nos EUA, 90% dos profissionais de software desenvolvem aplicativos verticais, tais como pacotes financeiros e de contabilidade para empresas, em lugar de trabalhar com produtos de software previamente embalados, como bancos de dados e planilhas de cálculo.
O crescente poderio técnico de países como a Índia suscita temores entre algumas pessoas nos países desenvolvidos, que se preocupam com a possibilidade da perda de emprego e de oportunidades.
Acho que esses temores não têm fundamento. Os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar mundial no desenvolvimento de software e vão continuar liderando nesse campo.
Mas, à medida que as oportunidades forem sendo divididas pelo mundo de maneira mais justa, o efeito final não será perda de emprego nos EUA ou em outros países desenvolvidos. A economia será estimulada.
A demanda por software empresarial adaptado vai continuar sendo maior do que a oferta por muito tempo ainda.
Muitas vezes me perguntam se a minha empresa pretende desenvolver produtos de software na Índia. Já terceirizamos parte de nosso trabalho para a Índia, mas ainda não transferimos uma parte importante do desenvolvimento para fora dos EUA.
Algum dia, vamos escolher um segundo lugar em alguma parte do mundo, e a Índia será um dos países que levaremos em conta.
Pergunta - Há muitos sites na Internet segundo os quais suas páginas são pessoais. Quais deles são realmente seus? Harold Weinstock, Canadá (m-h. weinstock@NetAxis.qc.ca).
Resposta - A única página legítima de Bill Gates na World Wide Web fica no endereço microsoft.com/billgates.
É um site relativamente simples, embora faça uso de ActiveX e "Java".
Na minha home page, você encontrará links com discursos recentes meus, colunas passadas e informações sobre alguns dos meus interesses.
Pergunta - De todas as máquinas com que você já trabalhou nos últimos 25 anos desenvolvendo software para computadores existe algo -do ponto de vista do programador ou do usuário final- de que você sinta saudades? O que você gostaria que os PCs atuais tivessem? Benicia Baker-Livorsi (bakerba@sluvca.slu.edu).
Resposta - A cada ano que passa, minha lista de desejos não realizados fica mais curta, mas ainda há algumas coisas das quais sinto saudades.
Uma delas é uma linguagem de programação chamada "Sail" -Stanford Artificial Intelligence Language. Basicamente, é uma forma de "Algol" (Linguagem Algorítmica). A "Sail" é limpa, mas muito completa, e, num mundo ideal, eu daria preferência a ela, deixando de lado qualquer uma das linguagens que temos hoje.
Já estou praticamente ouvindo a pergunta no ar: se a "Sail" é tão boa, por que minha empresa não a lança, ou por que não lança uma linguagem semelhante?
Muitas linguagens já vieram e se foram. São poucas as linguagens novas que pegam, como foi o caso da "Java", e a "Java" é uma variante de uma linguagem comum que já existia, a "C".
Outra capacidade do passado da qual sinto saudades é a de fazer perfis muito bons da eficiência com que um software está operando.
Antigamente, era possível saber quase exatamente como um programa de software em fase de desenvolvimento estava utilizando os ciclos computacionais.
Essa informação ajudava os programadores a centrar sua atenção na melhora das partes de um programa que estavam atrapalhando os ciclos da máquina.
Os responsáveis pelos perfis de hoje, especialmente aqueles que atuam em ambientes de desenvolvimento de baixo custo, não costumam ser tão bons.
Essa deficiência é surpreendente, levando em conta quão imensamente melhores são as ferramentas de desenvolvimento hoje, de modo geral, do que eram uma geração atrás.
Hoje, os programadores podem fazer coisas com as quais praticamente não sonhariam na era do mainframe. Podem enxergar instantaneamente onde estão ocorrendo erros na lógica e na execução do código, à medida que o escrevem.
Podem construir e refinar sofisticados protótipos gráficos muito rapidamente. Podem facilmente incorporar suporte para objetos fora e dentro da Internet.
Mas a confecção de perfis é uma debilidade anômala. Felizmente, é bem possível que não continue sendo um ponto fraco por muito tempo.
Várias empresas estão desenvolvendo programadores de perfis promissores. Portanto, estou prevendo que minha lista de desejos não realizados vai encolher ainda mais.

Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644.
E-mail askbill@microsoft.com

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