São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 1997
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Solano não consegue explicar cheque na sua conta

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI dos Precatórios começou a fechar o cerco sobre Fausto Solano Pereira, da Boa Safra, com a descoberta de uma operação aparentemente irregular com letras hipotecárias da Banestado Crédito Imobiliário e de um novo depósito feito por um "laranja" do esquema.
Em depoimento que avançou pela madrugada de ontem, Solano não explicou a origem de um depósito de R$ 72,74 mil em sua conta no Bradesco, feito com cheque de Anderson Tarcitani da Silva.
O relator da CPI, senador Roberto Requião (PMDB-PR), acha que esse cheque é de um "laranja" e está ligado a uma operação suspeita em que a Boa Safra teve um prejuízo de R$ 454 mil.
"A operação está devidamente registrada, posso mandar um relatório sobre ela", disse Solano.
Operação suspeita
Segundo o Banco Central, em 12 de setembro de 96, a Boa Safra comprou um lote de letras hipotecárias da Banestado Crédito Imobiliário por R$ 20 milhões.
No mesmo dia, a instituição repassou o lote para o banco Indusval por R$ 19,546 milhões, sofrendo um prejuízo de R$ 454 mil.
Em seguida, os papéis passaram pela "cadeia da felicidade". Num só dia, foram comprados e revendidos pela Split, Olímpia e IBF Factoring. A IBF, suposta "laranja" da Split, lucrou R$ 452,8 mil.
Esse lucro foi repassado para Anderson Tarcitani da Silva por meio de dois cheques: um de R$ 194 mil, em 13 de setembro, e outro de R$ 258 mil, no dia 16.
Segundo Requião, Tarcitani é chefe dos office-boys da Split, de Enrico Picciotto. Além disso, é primo de Mônica Tarcitani, mulher de um sócio da Split.
Tarcitani repassou cerca de R$ 3,5 milhões para Carmen Alonso Javiel, suspeita de operar com doleiros, em conta do Banco do Brasil em Foz do Iguaçu.
Boa Safra
No mesmo dia 13 de setembro, parte do dinheiro teria voltado às mãos dos donos da Boa Safra.
Nesse dia, Tarcitani emitiu dois cheques: um de R$ 72,74 mil, depositado em conta de Solano no Bradesco, e outro de R$ 18,18 mil, depositado para seu sócio, Paulo Roberto Ramos Júnior.
Com essa operação, Solano se torna reincidente no recebimento de cheques do esquema.
Ele não convenceu os senadores de que recebeu por ordem de um certo "Renê" um cheque de R$ 9,756 milhões da IBF Factoring, em 24 de outubro de 96. Durante o depoimento, Requião apresentou outro indício de que o cheque foi depositado por ordem de Picciotto: um telefonema da Split para a Boa Safra, em 24 de outubro.
"Eu não liguei para a Split. Esse foi um telefonema da mesa (de operações) para a mesa deles, uma coisa normal dentro do mercado", disse Solano. O BC acha ainda que a Boa Safra foi compensada pelo prejuízo de R$ 454 mil sofrido na operação envolvendo as letras hipotecárias com uma comissão de R$ 636 mil recebida da Banestado pela colocação dos papéis.

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