São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Paper diz ter agido sob ordem de banco

DANIEL BRAMATTI; OSWALDO BUARIM JR.; ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O relator da CPI dos Precatórios, senador Roberto Requião (PMDB-PR), apresentou ontem documentos que, segundo ele, comprovam a participação da Prefeitura de São Paulo e do Bradesco na "montagem" das operações irregulares envolvendo títulos públicos.
A afirmação foi feita logo após o depoimento do empresário Augusto César Falcão de Queiroz, diretor da distribuidora Arjel (antiga Paper), que disse ser "praticamente um 'broker' (operador)"' do Bradesco nos negócios com títulos públicos.
Queiroz disse que só comprava títulos quando tinha certeza de que o Bradesco os compraria a seguir. Em alguns casos, segundo ele, a ordem para que adquirisse determinado papel partia do próprio banco.
Requião ainda disse que um dos donos da corretora Trader, John Albert Spears King, revelou ter comprado títulos de Santa Catarina por ordem do Bradesco.
A informação foi dada a Requião em reunião reservada na casa do senador, em Brasília, na manhã de terça-feira da semana passada.
Katsumi Kihara, diretor do Bradesco responsável por operações no mercado, negou ontem em depoimento à CPI que a Paper fosse "broker" do Bradesco.
Cartas
"A Paper não era 'broker' do Bradesco. Como outras, a Paper oferecia papéis para o Bradesco, nós analisávamos as operações e então eu levava para a diretoria-executiva decidir."
Segundo Kihara, muitas dessas propostas eram recusadas, e o Bradesco não tinha conhecimento da cadeia de operações entre instituições financeiras.
O envolvimento da Prefeitura de São Paulo, segundo Requião, seria comprovado por duas cartas da empresa de assessoria Tarimba para a Paper, de 22 de setembro de 95 e 2 de abril de 96. A Tarimba assessorava a Paper nas operações, em troca de 50% do lucro bruto.
Nas cartas, a Tarimba "confirma entendimentos" para a compra de títulos do município de São Paulo pela Paper.
Na carta de abril de 1996, a empresa afirma que a Paper está "credenciada para comprar (títulos) de nosso cliente, Fundo de Liquidez dos Títulos Municipais da Secretaria de Finanças do Município de São Paulo ou por agente indicado por eles". O valor da operação é de cerca de R$ 50 milhões.
Na carta de setembro, os termos são semelhantes, mas a identidade do "cliente" é omitida. Nesse caso, o valor dos títulos é de aproximadamente R$ 70 milhões.
"O agente indicado pela prefeitura foi o Banco Vetor e a operação só foi feita porque o Bradesco se dispunha a comprar os títulos", disse Requião. "Os documentos mostram que a operação foi montada a partir da prefeitura, armada pela Tarimba e finalizada pelo Bradesco", acrescentou.
Pitta
Em setembro de 95, o então secretário de Finanças de São Paulo Celso Pitta determinou que o fundo de liquidez vendesse R$ 70 milhões em títulos para o Banco Vetor. A carta em que a ordem foi dada está em poder da CPI.
A partir daí, os papéis passaram pela chamada "cadeia da felicidade": foram vendidos sucessivamente para o Banco Indusval, distribuidora JHL, Paper e Bradesco.
O maior lucro nas negociações (R$ 3,868 milhões) ficou com a JHL. A Paper lucrou R$ 170 mil. "Ao ver esses números, eu diria que talvez tenha sido usado. Só fechei negócio porque o Bradesco se comprometeu a comprar"', afirmou o diretor da extinta Paper.
As cartas enviadas pela Tarimba à Paper eram endereçadas a Edson Ferreira, chefe da mesa de operações da Paper e ex-funcionário do Bradesco. Ferreira foi apontado por Augusto Queiroz como principal elo entre a Trader e o Bradesco. "Sem Edson Ferreira eu não faria nenhum negócio com o Bradesco", afirmou.
Procurada às 22h45, a assessoria de imprensa de Pitta informou que seria impossível localizá-lo.
Depois do depoimento de Kihara, do Bradesco, a CPI iniciou uma acareação entre o executivo do Bradesco e Queiroz, da Arjel. Eles mantiveram suas versões.
"Recebíamos propostas de outras (corretoras) que sabiam que tínhamos relação com o Bradesco", disse Queiroz em seu depoimento.
(DANIEL BRAMATTI, OSWALDO BUARIM JR. E ALEX RIBEIRO)

Texto Anterior: Prefeitura processará Ramos
Próximo Texto: Solano não explica depósito de 'laranja'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.