São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 1997
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Debate abortado

ALDAÍZA SPOSATI

São Paulo carece de alternativas de transporte público coletivo. A cidade, com pouco mais de 1.500 km² e 18.000 km de ruas, dispõe de apenas 43 km de linhas de metrô. Para efeito de comparação, a cidade de Nova York dispõe de cerca de 450 km. Um morador do distrito de Cidade Tiradentes gasta, em média, 90 minutos para se deslocar para qualquer outro ponto da cidade, e mais de 10 mil deslocamentos diários são realizados a pé.
Esse breve panorama sugere que qualquer proposta com a intenção de qualificar o transporte público deve ser vista, a priori, como algo de interesse da cidade. Sendo assim, a instalação de um sistema de média capacidade, maior do que a oferecida pelo ônibus convencional e menor do que a realizada pelo metrô, como é o caso do sistema batizado vulgarmente de fura-fila, é algo importante, que merece o necessário debate para ser, seriamente, implementado.
O recém-inaugurado debate do projeto de lei 03/97, do Executivo, que propõe instituir o fura-fila, infelizmente foi abortado pelos vereadores situacionistas. Para atender interesses outros que não os da cidade, esses vereadores aprovaram o projeto desconsiderando suas falhas técnicas e legais.
A bancada do PT é favorável às iniciativas que são positivas para a cidade, íntegras do ponto de vista legal e defensoras do interesse social. Assim, aprovou, com as mudanças necessárias, a regulamentação fundiária do projeto Cingapura, a regulamentação dos loteamentos e até a proposta final da Operação Urbana Faria Lima.
Um projeto de transporte que irá implicar desapropriações, impactos ambientais e a reorganização do modelo já existente precisa demonstrar que se articula com as demais alternativas de transporte e que responde às demandas de origem e destino, em face da nova vocação econômica de São Paulo dirigida para o setor de serviços.
O projeto aprovado pelos vereadores de situação não discrimina nem mesmo quais serão as linhas-trajetos a serem concedidas para a exploração do sistema. Ele se apresenta como uma proposta de negócio para favorecer o interesse privado e não com um avanço para a qualidade do transporte público.
O momento para o debate do sistema de transporte público não poderia ser melhor. Em breve estaremos discutindo na Câmara a proposta do Plano Diretor e as propostas de indução de crescimento da cidade. O planejamento do transporte precisa ser compatível com esse crescimento.
São Paulo, mais uma vez, está perdendo a oportunidade de construir uma alternativa para sua qualidade de vida.

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