São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 1997
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Medo impede testemunhas de depor em CPI

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Faltaram quatro das seis testemunhas que iriam depor ontem na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga a violência policial no Rio.
As testemunhas, moradoras da Cidade de Deus (zona oeste), não compareceram por medo de represálias. Elas iriam falar sobre a violência no bairro, local onde foram filmadas cenas de agressões de policiais contra moradores.
Segundo o presidente da CPI, deputado Edmilson Valentim (PC do B), todas as testemunhas haviam confirmado presença.
"Essas pessoas, no momento, não confiam no poder público e nós não podemos culpá-las. De qualquer maneira, foram muito ricos os depoimentos das duas testemunhas que estiveram presentes", disse o deputado após a sessão.
R.C.C., 25, foi uma das pessoas a testemunhar. Segundo a testemunha, no dia 18 de março de 96, seu marido, W.M.P., teria sido roubado e torturado por policiais militares.
Ela disse que seu marido foi parado na rua e conduzido pelos policiais, que ela identificou como Carlos e Oliveira, para um terreno baldio. Ele teria sido algemado de cócoras e interrogado sobre o seu envolvimento com os traficantes da Cidade de Deus.
Quando negou qualquer participação com o tráfico, os policiais teriam ameaçado incendiar seu corpo. Ainda segundo o depoimento da moradora, depois seu marido foi levado para casa, onde os oficiais teriam roubado R$ 1.200,00.
"Eles roubaram meu marido dizendo que era dinheiro do tráfico. Eu disse que precisava da quantia para pagar minhas contas do mês, mas eles me disseram que isso era problema meu", afirmou ela.
A testemunha ainda contou que cerca de 20 dias antes das filmagens da agressão de policiais a moradores da Cidade de Deus, um dos PMs filmados teria estado em sua casa.
"Ele chegou com outros policiais alegando que tinha recebido uma denúncia. Acusaram meu marido de traficante. Revistaram minha casa inteira, mas nada foi encontrado", disse a testemunha.
Já o cozinheiro G.F.S., 38, que mora na Cidade de Deus há 28 anos, afirmou em seu depoimento que assistiu às agressões dos PMs contra os moradores e que foi agredido com tapas e pontapés.
A próxima sessão da CPI acontece no dia 30, quando serão ouvidos o ex-comandante do 18º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Maurício Guedini, e cinco PMs acusados de agressões contra os moradores de Cidade de Deus.

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