São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 1997
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Collins usou 'violência inevitável', diz Jordan

ELAINE GUERINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Neil Jordan, 47, esperou 14 anos para levar às telas a trajetória de Michael Collins, o fundador do Exército Republicano Irlandês (IRA). Quando o filme finalmente estreou na Europa, em novembro, o cineasta foi acusado de distorcer fatos históricos e de transformar um assassino em herói.
"Michael Collins - O Preço da Liberdade", que chega hoje às salas brasileiras, apresenta um retrato romântico do líder revolucionário que morreu assassinado aos 31 anos, em 1922.
"Naquela época, um pouco de violência era inevitável", disse o diretor, em entrevista concedida à Folha, por telefone, de Dublin.
A face polêmica do protagonista fez com que o próprio estúdio que produziu o filme deixasse de apoiá-lo. "A Warner ficou preocupada com a sua imagem", contou Jordan, que dirigiu filmes como "Traídos pelo Desejo" e "Entrevista com o Vampiro".
"Michael Collins" só se destacou no último Festival de Veneza -levando o prêmio principal e o de melhor ator para Liam Neeson. A Academia de Hollywood deu-lhe apenas duas indicações ao Oscar (fotografia e trilha sonora).
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
*
Folha - "Michael Collins" lança um olhar humano sobre o homem que fundou o IRA. Terá sido esse o motivo de tanta polêmica em torno do filme -a ponto de os ingleses terem tentado proibi-lo?
Neil Jordan - Talvez. Sempre soube que o filme seria polêmico, já que Collins levou uma vida controversa. Nunca houve um filme sobre terrorismo na Irlanda que não causasse polêmica. O problema é que até hoje nenhum filme tinha retratado a vida de quem começou tudo isso.
Folha - Os ingleses o acusaram de transformar um assassino em herói. Qual foi sua reação?
Jordan - O filme não faz dele um herói. Simplesmente mostro como ele era. Morreu com 31 anos, depois de ter destruído a administração britânica na Irlanda.
Folha - Por que o filme demorou 14 anos para sair?
Jordan - De um lado, os estúdios não gostam de fazer filmes pouco comerciais. De outro, sempre houve resistência a qualquer retrato do início da luta pela independência da Irlanda. Acho que até hoje muitos ingleses ainda pensam que a Irlanda deveria fazer parte do Reino Unido.
Folha - Como você convenceu a Warner a financiar o filme?
Jordan - Depois de "Entrevista com o Vampiro", que fiz com o estúdio, eles disseram que eu poderia escolher o próximo filme.
Folha - Um filme para o estúdio e outro para o diretor...
Jordan - Fiz "Entrevista" para mim também. A diferença é que "Michael Collins" é menos comercial.
Folha - O filme passa longe do glamour hollywoodiano que costumar marcar os épicos. Você sofreu pressão do estúdio para torná-lo mais comercial?
Jordan - Não. Fiz do jeito que queria. Sempre pensei em Liam Neeson para o papel e Julia Roberts me pediu para fazer a Kitty. A única restrição foi o orçamento. A Warner me disse "você tem US$ 28 milhões, não peça mais".
Folha - Outra acusação que o filme recebeu foi a de distorcer fatos. É possível ser fiel à história ao adaptá-la para o cinema?
Jordan - Você só pode saber até que ponto um filme é fiel à história quando o compara com outros. Produções como "Gandhi" ou "JFK" também retrataram figuras históricas e todas tomaram certas liberdades, pelo fato de reduzirem a vida de alguém em duas ou três horas. Comparado com esses filmes, "Michael Collins" é fiel.
Folha - Esperava que o filme tivesse melhor aceitação nos EUA?
Jordan - O problema foi a falta de apoio. Mas, na Europa, ele foi bem e, na Irlanda, é o maior sucesso comercial de todos os tempos.

Filme: Michael Collins - O Preço da Liberdade
Produção: Irlanda, 1996
Direção: Neil Jordan
Com: Liam Neeson, Julia Roberts
Quando: a partir de hoje nos cines Olido 2, Butantã 3, Eldorado 5 e circuito

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