São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 1997
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Cresce suspeita de massacre em Lima

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

Dois dias depois de ocorrida, a ação que libertou 71 dos 72 reféns que estavam em poder de terroristas do MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru) em Lima é colocada sob suspeita em diversos pontos.
O principal se refere à forma com que os 14 terroristas foram mortos. Segundo o jornal "Expreso", citando fontes dos serviços de inteligência peruanos, alguns dos membros do MRTA, desarmados, teriam tentado se entregar. "Eu me rendo", teria gritado uma terrorista, que acabou sendo fuzilada depois pelos militares peruanos. Participaram da ação 140 militares.
O esquerdista "La Republica" também diz que os terroristas foram mortos sumariamente, alguns desarmados, sem ter a chance de se render.
A Folha apurou junto a funcionários do necrotério do Hospital da Polícia Nacional, onde estão os cadáveres do MRTA, que todos os corpos inteiros apresentam tiros na cabeça -versão que o "La Republica" também aponta.
A Anistia Internacional, um dos principais grupos de defesa de direitos humanos no mundo, enviou um investigador para o Peru.
O anglo-argentino Peter Archard recolhe evidências sobre o que aconteceu na casa do embaixador japonês no Peru no desenlace da crise, que durou 126 dias.
"É importante lembrar que a prioridade são os reféns, e eles estão bem em sua maioria. Mas há indicações de que poderia ter havido menos mortes", afirmou.
O líder da operação terrorista, Néstor Cerpa Cartolini, tinha dois tiros na cabeça. "Isso pode indicar execução", disse o ativista de direitos humanos Marco Higuita Hierro, da Coordenação de Defesa de Direitos Humanos do Peru.
A coordenação divulgou nota nos jornais peruanos de ontem saudando a liberação dos reféns, mas criticando a violência da ação.
A Cruz Vermelha Internacional também lamentou os mortos, assim como o Episcopado de Lima.
Matança
Relato de dois ex-reféns ao "Asahi Shimbun" confirma essa versão. "Vi uma matança", diz um deles, não identificado.
Outro, disse ao jornal japonês que um sequestrador foi capturado vivo e tirado da do local pelos militares. "Só me dei conta de que tinha morrido quando fiquei sabendo que isso ocorrera com todos os 14 terroristas", relata o ex-refém ao "Asahi".
Outros ex-reféns, ouvidos pelo diário argentino "Clarín", disseram que havia 16 ou 17 terroristas, o que indica que alguns podem ter fugidos ou sido presos e escondidos pelo governo do Peru.

LEIA MAIS sobre o fim da crise dos reféns às págs. 13 e 14

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