São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 1997
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Mulher dá à luz aos 63 anos nos EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Uma mulher de 63 anos de Los Angeles, Costa Oeste dos EUA, deu à luz uma menina saudável e se tornou a mãe mais idosa da história, segundo médicos da Universidade do Sul da Califórnia (USC) que possibilitaram a gravidez ao implantarem em seu útero um óvulo de outra mulher fertilizado "in vitro" por um espermatozóide de seu marido, de 60 anos.
O casal não quer ser identificado. A menina nasceu com 2,9 kg, no final do ano passado. Segundo o chefe do programa de reprodução assistida da USC, Richard Paulson, a mulher mentiu sobre a idade, dizendo ser dez anos mais jovem, até a 13ª semana da gravidez.
Paulson diz que não atende mulheres com mais de 55 anos que queiram engravidar. Mas, segundo ele, essa mulher, que é filipino-americana, apresentou passaporte mostrando que tinha 50 anos quando começou a ser tratada por Paulson, quatro anos atrás.
Ele disse que, quando os médicos descobriram a real idade da mulher, interromper a gravidez havia se tornado opção "impensável". Ela está casada há 16 anos e não tinha tido filhos até agora.
O caso estava sendo discutido em vários programas de TV e de rádio ontem. O tema mais abordado é a ética médica em reprodução humana: se, pelo fato de ter se tornado possível fazer uma mulher carregar um feto após os 60 anos, isso torna justificável praticar inseminação artificial em pessoas dessa idade. Também se discute se uma mulher de mais de 60 anos tem direito de pôr uma criança no mundo se ela terá mais de 75 anos quando a filha for adolescente.
Os que defendem os médicos e a paciente dizem que nos EUA há diversos exemplos de avôs idosos criando netos sem dificuldades e que o principal problema de reprodução no país não está nas mulheres idosas que engravidam de maneira planejada e consciente, mas nas adolescentes que ficam grávidas sem intenção e depois não têm como criar os filhos.
Ronald Munson, professor de ética da Universidade de Missouri, diz que a atitude de rejeição à mulher mais idosa que tem filhos é sexista. "É irracional celebrar quando homens de mais de 70 anos têm filhos, como acontece com frequência, mas condenar com horror quando uma mulher de mais de 60 resolve fazer o mesmo".
Segundo Mark Sauer, obstetra da Universidade de Columbia, em Nova York, o caso pode ser uma revolução na sua área. "Acreditávamos que com seres humanos, como com outros animais, o útero se tornasse incapaz de conter um bebê a partir de uma certa idade, 60 anos no caso da mulher."

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