São Paulo, sábado, 26 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vice do Bradesco diz que Requião mente

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

O vice-presidente-executivo do Bradesco, Ageo Silva, afirmou ontem que o relator da CPI dos Precatórios, o senador Roberto Requião (PMDB-PR), está tentando envolver o banco no esquema irregular de emissão de títulos públicos.
Silva ainda acusou Requião de "mentir" ao afirmar que a corretora Trader comprou títulos de Santa Catarina por ordem do Bradesco. "Isso não procede, é totalmente destituído de verdade, nunca fizemos negócios com a Trader. Nós só soubemos da sua existência depois da instalação da CPI."
Anteontem, Requião afirmou na CPI que tem documento provando a participação da Prefeitura de São Paulo e do Bradesco na "montagem" das operações irregulares envolvendo títulos públicos.
'Montagem'
"O Bradesco nunca participou ou participa de nenhuma montagem de operação irregular. Se o fato de a gente ser comprador de títulos públicos, com intenção de levar até o resgate, for irregular, então todo mercado aberto participa (da irregularidade)", afirmou o dirigente do banco.
Silva também respondeu à afirmação de Augusto César Falcão de Queiroz, diretor da distribuidora Arjel (antiga Paper), que disse ser "praticamente um 'broker' (operador)" do Bradesco no mercado de títulos públicos.
Para ele, Queiroz não tentou envolver o banco no esquema dos títulos.
"Não vi intenção da Paper em envolver o Bradesco. Ele foi um cavalheiro, respondeu só dentro do que sabia, foi muito espontâneo. Mas o que vemos é que o relator está querendo, sim, nos colocar na história."
Silva não disse os motivos que levariam Requião a tentar envolver o banco.
O vice-presidente do Bradesco negou que Queiroz seja um "broker" do banco: "Ele nunca nos representou para comprar papéis no mercado. Ele nos procurou porque carregamos uma carteira volumosa", disse.
Sobre a operação com a Trader, Ageo Silva afirmou que "infelizmente o relator (Requião) trouxe uma mentira para o plenário".
Afirmou que o banco não conhece o dono da Trader, John Spears King. "Como é que o Bradesco, na sua postura e tamanho, mandaria alguém que não conhece comprar papel. Falando um português bem claro, é mentira."
Títulos
Silva disse que o Bradesco comprou os títulos do município de São Paulo da Paper, e não da prefeitura, porque não foram oferecidos diretamente à instituição.
"Se ela (a prefeitura) nos tivesse oferecido, nós teríamos comprado."
Questionado se essa prática configuraria proteção à Paper, Ageo Silva afirmou que "não gostaria de emitir juízo de valor".
Silva ainda afirmou ser possível que uma corretora só compre títulos da prefeitura depois de saber que o Bradesco os recompraria.
"Quando a gente diz que compra, a Paper compra, porque já tem do outro lado da linha alguém comprando. Isso é frequente, as pessoas trabalham com um telefone no ouvido direito e outro no esquerdo", afirmou.
O vice-presidente-executivo negou que Edson Ferreira, ex-funcionário do banco, seria um "elo" do Bradesco dentro da Paper. "Ele deixou o banco em 1983 e passou por diversas outras instituições antes de entrar na Paper, isso só pode caber na cabeça de uma pessoa muito tacanha", disse.
'Fujimori'
Silva ainda lembrou que o Bradesco realizou "diversas outras" operações com a Paper que não passaram por Ferreira.
O dirigente ainda criticou a forma como o diretor da instituição Katsumi Kihara foi tratado por Requião na sessão de anteontem da CPI. "Ele e a colônia japonesa foram desrespeitados. O relator o chamou de 'Fujimori"', disse.

Texto Anterior: 'Vale não deve ser controlada por clientes'
Próximo Texto: Ex-funcionário vai ser interrogado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.