São Paulo, sábado, 26 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Proliferação de cursos superiores no país causa perda da qualidade

ROGERIO SCHLEGEL; DANIELA FALCÃO
DA REPORTAGEM LOCAL E DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A expansão do ensino superior brasileiro, que teve o número de matrículas quadruplicado de 1970 a 1994, tem implicado perda radical da qualidade.
No provão, cursos novos, criados em especial por instituições particulares, tiveram desempenho muito pior que os iniciados antes de 1969, quando uma reforma do ensino universitário facilitou a abertura de cursos.
Em administração, os cursos criados até 1969 tiveram o dobro de notas A e B do que os cursos de criação mais recente. A relação se inverte nos conceitos D e E.
Em direito, os cursos mais antigos ficaram com 34,1% de A e B contra 24,3% dos pós-69. A comparação dos conceitos D e E é ainda mais desfavorável aos novos.
Engenharia civil pode ser considerada um caso à parte por dois motivos: é uma carreira menos atraente para "fábricas de diploma" -exige maior investimento inicial, em laboratórios, por exemplo- e a que teve as escolas mais atingidas pelo boicote ao provão.
Mesmo assim, engenharia teve 25,6% de A e B entre os cursos criados até 1969 e 21,7% entre os mais recentes. É verdade que os mais antigos tiveram maior índice de D e E (30,2% contra 26,1%), mas isso ocorre porque concentram faculdades onde o boicote pegou com maior intensidade.
Particular cresce
No universo universitário geral, tem havido equilíbrio entre crescimento de matrículas em instituições públicas e privadas. Federais, estaduais e municipais ofereceram, de 1985 a 1994, índice próximo de 40% do total, sobrando 60% para as particulares.
A julgar pelas três carreiras que entraram no provão, a proporção de vagas pode ter se mantido, mas as particulares estão criando maior número de cursos.
Nas carreiras avaliadas, a expansão pós-69 ocorreu especialmente nas privadas, que se saíram pior.
Nos cursos das duas carreiras de humanas criados até 1969, as federais e estaduais tinham 1 curso para cada 2 das privadas. A proporção de particulares aumenta nos cursos iniciados de 1970 a 1993. Em administração, passa para 1 de pública para cada 4 de privada. Em direito, passa a 1 para 6.
Embora sejam públicas, as municipais não estão incluídas nessa conta por ter perfil específico.
A constatação da má qualidade dos cursos novos é especialmente preocupante porque a explosão do ensino continua. Um exemplo: os 153 cursos de administração instalados nos últimos três anos -que não entraram no provão por não ter formandos ainda- representam quase metade de todos os criados anteriormente. (ROGERIO SCHLEGEL e DANIELA FALCÃO)

Texto Anterior: 'Isoladamente, provão não tem valor nenhum', diz especialista
Próximo Texto: Interior de SP tem 'polígono dos reprovados' em administração
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.