São Paulo, sábado, 26 de abril de 1997 |
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Dor deixou índio em estado de choque
WILLIAM FRANÇA
Pela descrição dos boletins de atendimento, ele foi incendiado às 5h10 de domingo e só chegou ao hospital às 6h05. Com base nos boletins da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros e do Hospital Regional da Asa Norte, é possível reconstituir parte do sofrimento do índio. A dor chegou a ser tão forte que, em parte desse tempo, ele ficou em estado de choque. Galdino estava dormindo quando foi incendiado. Ele acordou e, com o corpo em chamas, andou cambaleante por cerca de três metros. Nesse tempo, chegaram as primeiras pessoas que o socorreram, tentando apagar o fogo com um casaco (por abafamento), água, cerveja e pó químico de extintores de incêndio. A mistura desses componentes provocou um choque térmico. Ele ardia a mais de 200oC e teve a temperatura rebaixada a zero, imediatamente, por causa do extintor. Além disso, o pó do extintor e a cerveja reagiram, formando uma espécie de espuma efervescente sobre a pele queimada. Os socorristas tentavam arrancar parte da roupa que ardia -e junto, arrancavam a pele. Foi com esse quadro que os policiais militares o encontraram, às 5h20. Pelo rádio, foi acionada a ambulância do Corpo de Bombeiros, que chegou cerca de dez minutos depois, às 5h30. Nesse momento, o índio estava em estado de choque (ou seja, o sangue bombeado pelo coração não chegava a todos os órgãos). Os bombeiros despejaram alguns litros de soro fisiológico sobre o índio, numa tentativa de reidratá-lo. Segundo médicos, de pouco adiantou esse procedimento: com o fogo e sem a pele, a perda de líquido foi imensa. Com a mistura dos produtos usados para apagar o fogo, houve contaminação do sangue. Assim, o primeiro órgão atingido, depois da pele, foi o rim. O hospital registra que o índio chegou às 6h05. Ele entrou em coma, mas resistiu durante 20 horas no hospital até morrer. Missa Os índios pataxós hã-hã-hãe participam amanhã na aldeia de Pau Brasil (BA) da missa de sétimo dia da morte de Galdino Jesus dos Santos, 44. Após a celebração, os pataxós vão participar de mais um ritual de protesto pelo assassinado de Galdino Jesus dos Santos. Colaborou a Agência Folha Texto Anterior: Acusada diz que foi o ex-namorado Próximo Texto: Ator e 2 camelôs ficam feridos após batida em avenida do Rio Índice |
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