São Paulo, sábado, 26 de abril de 1997
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AT&T denuncia "concorrência desleal"

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente da AT&T do Brasil, Omar Carneiro da Cunha, disse ontem que grupos estrangeiros entraram "pela porta dos fundos" no mercado de telecomunicações para concorrer na telefonia celular, sem pagar por concessões.
Carneiro da Cunha refere-se a grupos multinacionais, sobretudo norte-americanos, que estão comprando empresas brasileiras que obtiveram concessões gratuitas, nos governos Collor e Itamar, para explorar o serviço móvel empresarial chamado "trunking".
"É uma concorrência desleal com consórcios que disputam as licitações do celular e que irão desembolsar centenas de milhões de dólares no pagamento das concessões", afirmou. O preço mínimo da concessão na Grande São Paulo é de US$ 600 milhões.
O "trunking" nasceu como sistema de comunicação por rádio -desses usados por táxis e frotas de caminhões-, mas evoluiu para a tecnologia digital e pode funcionar como um celular para uso empresarial, de alta sofisticação.
Na semana passada, chegou às mãos do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, por denúncia anônima, um documento em inglês que revela toda a estratégia de atuação da norte-americana McCaw International no mercado brasileiro de "trunking".
Cópias do mesmo documento foram enviadas aos consórcios do celular e órgãos de imprensa.
O documento revela que a McCaw tornou-se a maior operadora do serviço de "trunking" no Brasil e que conseguiu acumular 1.700 canais de frequência.
O presidente da AT&T acusou a McCaw de estar "burlando escandalosamente a legislação brasileira", que proíbe a compra de empresas de "trunking" sem prévia anuência do governo.
Ele contou que, no início do ano, a AT&T mandou um funcionário, que se encontrava nos Estados Unidos, participar de uma reunião da McCaw com investidores norte-americanos, onde ela expôs seus projetos fora dos Estados Unidos. A empresa estava captando US$ 500 milhões no mercado para financiar tais projetos.
Comprovação
"Temos folhetos da McCaw dizendo que só a Telebrás tem mais canais de frequência do que ela no Brasil. A empresa não esconde essa informação nos Estados Unidos. Ao contrário, usa o dado como chamariz para atrair investidores", disse Carneiro da Cunha.
Trata-se de uma guerra de gigantes. Craig McCaw, principal acionista da McCaw International, já possuiu a maior empresa de telefonia celular dos Estados Unidos, a McCaw Cellular, e vendeu a companhia para a própria AT&T, por US$ 12,5 bilhões.
Depois que se desfez da telefônica, Craig McCaw decidiu entrar no mercado de "trunking" e se tornou acionista da maior operadora mundial deste serviço: a Nextel, também dos EUA. A McCaw International é o braço da Nextel para os negócios em outros países.
Carneiro da Cunha disse estar convencido de que os grupos internacionais que compraram empresas de "trunking" no Brasil -além da McCaw, ele cita também a Comcast, sócia da McomCast, de São Paulo- usarão as licenças para competir no celular.
"Eles estão usando o 'trunking' como uma espécie de barriga de aluguel", diz, lembrando que a regra do celular é diferente.
No celular, o capital estrangeiro está limitado a 49% das ações com direito a voto e cada operadora pode ter, no máximo, duas concessões no país. Não há limite para participação estrangeira no "trunking" e nada impede que um mesmo grupo receba concessões para o serviço em vários Estados.

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