São Paulo, domingo, 27 de abril de 1997
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Desemprego é o 'grande desafio', diz Paiva

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na quinta-feira, 1º de maio, quando o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) liderar mais uma manifestação contra a política econômica do governo, o ministro do Trabalho, Paulo Paiva, estará torcendo para que a taxa de desemprego no país se mantenha estável na média de 5,5% da chamada população economicamente ativa.
Numa época de abertura de mercado e reforma do Estado, Paiva considera que o "grande desafio" é impedir que o desemprego cresça. Sem uma avaliação precisa do impacto de programas lançados para combater o desemprego, Paiva rebate as críticas da oposição com ironia: "Como se taxa de juros negativa e câmbio desvalorizado pudessem levar ao paraíso".
Para ele, o novo salário mínimo de R$ 120, que também passa a vigorar na quinta-feira, atingirá um número menor de trabalhadores.
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Folha - Qual foi a lógica desse reajuste?
Paulo Paiva - A primeira coisa que observamos foi não indexar o salário à inflação passada. Segundo, levamos em conta o impacto fiscal. A estimativa dos técnicos é a seguinte: cada ponto percentual de reajuste do mínimo aumenta os gastos públicos em R$ 600 milhões. Isso na União, Estados e municípios, Previdência, seguro-desemprego, tudo.
A nossa estratégia foi estabelecer uma variação com a expectativa que a inflação será de 5 a 6%, aproximadamente, de maio desse ano a abril do próximo. Foi essa a estratégia. Não teve nenhuma mágica.
Folha - O sr. acha bom o valor?
Paiva - Vão dizer que o aumento está sendo pequeno. A variação do valor médio do salário mínimo vem diminuindo. Mas, como a inflação está caindo, o espaço também diminui. Não adianta querer dar um passo maior.
Folha - Tem encolhido o universo de pessoas que ganham o mínimo?
Paiva - Isso é fato. A Rais (cadastro com informações de empresas) consolida informações do mercado formal de trabalho. E os dados da Rais de 95 nos informam que em cada cem trabalhadores, 4,3 recebem até um salário mínimo. Isso não conta empregado doméstico. Eu acredito que, com a indexação dos benefícios da Previdência ao mínimo, o salário mínimo no Brasil foi se deslocando do mercado formal de trabalho. No setor privado, as convenções passaram a fixar pisos salariais superiores ao mínimo.
Folha - Isso não é um fenômeno exclusivo do mercado formal?
Paiva - Também o mercado informal descolou do mínimo. A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar) me diz que 16,4% da população ocupada ganha até um salário mínimo. Isso em cima de uns 70 milhões de pessoas ocupadas.
Folha - No início do ano, o ministério chegou a defender salários mínimos diferenciados para os setores público e privado. Essa proposta foi arquivada?
Paiva - O ministério não, técnicos do ministério. O governo foi muito claro nisso. Não irá fazer nenhuma proposta de mudança na política do mínimo. Eu acho que não há necessidade de mexer.
Folha - Está mantida a meta do governo FHC de dobrar o valor do mínimo ao final do mandato?
Paiva - Esperamos. Foi essa a proposta do presidente na campanha. Faremos tudo para que seja atingida, condicionada à estabilidade da moeda, ao equilíbrio das contas públicas e ao crescimento da economia. O objetivo do governo é dobrar o valor do mínimo, que na época era R$ 64,79.
Folha - Às vésperas do 1º de maio, o MST promete fazer uma nova manifestação contra a política econômica do governo e contra o desemprego. Há perspectiva de redução do desemprego?
Paiva - Essa é uma questão muito complexa. Você não pode ter ilusões de que vai resolver tudo a curtíssimo prazo. É uma crítica simplista a visão de que há uma política econômica que gera desemprego. Como se taxa de juros negativa e o câmbio desvalorizado pudessem levar ao paraíso.
Folha - Quais são os resultados dos programas lançados pelo governo para gerar algo em torno de 16 milhões de empregos?
Paiva - Há um esforço grande na qualificação da mão-de-obra. Mas isso não representa imediatamente mais emprego.
Esses programas têm duas dimensões: preparar pessoas para que possam disputar vagas que exijam maior qualificação e permitir que segmentos mais vulneráveis tenham acesso a atividades que rendam algum tipo de remuneração. Neste ano, vamos nos dedicar ao esforço de avaliação desses programas para acertar o rumo deles. É difícil dizer o impacto.
Folha - Qual é a taxa de desemprego ideal para as atuais condições da economia brasileira?
A taxa brasileira é relativamente baixa. Está em torno de 5,5%, a taxa média, estável ao longo da década de 90. No ano de 97, as taxas são menores que as do ano passado, tanto do IBGE como do Dieese. Não há, no Brasil, uma tendência de aumento do desemprego.
O ideal seria que tivéssemos uma economia sem desemprego. Mas isso é utopia. O importante é trabalhar para que o desemprego não cresça. É o grande desafio do final do século.

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