São Paulo, domingo, 27 de abril de 1997![]() |
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Conheça os selecionados em romance e contos
EDITORA - MOVIMENTO Enredo e comentárioContos curtíssimos, de uma página ou menos, minitragédias, "fait divers" moldados em ambiente urbano. Fechos bruscos, de tonalidade pessimista. Rápido e sintético na expressão. Mordacidade e crueza. Falta ao autor livrar-se um pouco do universo de Dalton Trevisan. Às vezes é apressado demais. 2. Livro - Keith Jarrett no Blue Note Autor - Silviano Santiago, mineiro Enredo e comentário Cinco contos inspirados em CD homônimo do músico norte-americano. Focaliza personagens gays intelectualizados, no interior dos EUA e no Rio. Introspectivo, questionamento interior, memória. Linguagem sob total controle. Ausência de chavões. Feliz capacidade de demonstrar o homossexual, literariamente, como homem comum. A vitalidade dos personagens não reside no fato de serem do "grupo" social GLS e sim na individualidade de seus anseios. "Clean" e saudável. 3. Livro - Cheiro de Amor Autor - Edla van Steen, catarinense Enredo e comentário Preocupação com a vida em idade madura. Classe média alta. Desencontros, conflitos familiares. Centrado em personagens adultos ou já idosos. Amizades em crise. Lesbianismo detectado tardia e veladamente. Os diálogos aparecem, habilmente, como êmbolos da narrativa. Daí, muitas vezes, a aparência de textos escritos para teatro. Um sarcasmo feminino atravessa e deixa marcas nos oito contos. Fica, porém, na superfície dos conflitos. . Contos - autores estreantes 1. Livro - O Edifício do Lado da Sombra Autor - Luís Augusto Fischer, gaúcho Enredo e comentário Funde o urbano e o interiorano. Colonos sulinos enfrentam revezes reais e imaginários de cidade grande. A força da memória e do patriarcalismo. Certa metalinguagem com reflexões sobre o ato de contar histórias. Estrutura narrativa basicamente tradicional. Dois belos e comoventes contos, "Exposição" e "A Fronteira", ambos tratando, em síntese, da relação pai-filho, valem pelo livro todo. Desnivelado. 2. Livro - Que Fim Levou Brodie? Autor - Antonio Fernando Borges, carioca Enredo e comentário Contos de alto teor reflexivo e metalinguístico, mas, ainda assim, com enredos urbanos explícitos contendo crimes, seduções ou flertes com a História. Um tanto de surrealismo. Não-disfarçada homenagem ao "bruxo" portenho Jorge Luis Borges, com disfarçada reverência a Italo Calvino. Pode ser às vezes automastigativo, mas revela força de linguagem e erudição. O personagem principal é a própria literatura. Obra para pós-modernos e/ou chatos. 3. Livro - Só Autor - Bianca Ramoneda, carioca Enredo e comentário Mistura de crônicas urbanas, poemas em prosa, poesia, aforismos e alguns relatos ou histórias de moral explícita. Reflexões e tentativas de narrativa de uma pós-adolescente audaciosa, alegre e "cheia de amor para dar". Não é, na verdade, um livro de contos. Ramoneda se expõe mais como pessoa -certamente adorável- do que como autora. Meio bobinho, enfim. . Romance - autores estreantes 1. Livro - O Silêncio da Chuva Autor - Luiz Alfredo Garcia-Roza, carioca Enredo e comentário Inspetor tenta esclarecer a morte de um executivo cujos detalhes mais importantes o leitor -e só ele- conhece desde o início do livro. O cenários são as ruas do Rio de Janeiro. Policial no mais velho estilo, com personagens de classe média alta e um detetive, o herói, amante de literatura e música erudita. Bem escrito, prazeroso. Mas nada apresenta de novo. 2. Livro - Não Há Noite tão Longa Autor - Roberto Amaral, cearense Enredo e comentário Saga de uma família, centrada na figura de Henrique, um homem vindo do interior do Ceará que acaba por se engajar na luta armada contra o regime militar pós-64. A solução está no coletivo, não no individual. Mais "memórias" do que "romance". Verborragia na linguagem: o autor quer mostrar que sabe escrever bem. Vale mais pela história de Rachel, a mãe, ex-pianista, do que pela de Henrique. "Viagem", primeiro livro de Amaral, de 91, feito de contos, é bem melhor. 3. Livro - Paixões Alegres Autor - José Antônio de Souza, mineiro Enredo e comentário Catatau de 730 páginas. Relacionamento amoroso, cheio de idas-e-vindas e tragédias, entre um menino de 13 anos interiorano e uma socióloga paulista cosmopolita de 25 anos. Passa-se, basicamente, em Januária, cidade mineira regada pelo rio São Francisco. Apesar do tamanho do livro, o autor consegue segurar o enredo. Mistura romance de formação e tragédia, preconceitos e fricções em família, com direito a cenas de Tribunal e suspense. Estilo consistente, de forte personalidade. Bom para ler nas férias. . Romance - autores consagrados 1. Livro - O Equilibrista do Arame Farpado Autor - Flávio Moreira da Costa, carioca Enredo e comentário História em tom de farsa do sofrido personagem Capitão Poeira, que deixa a cidadezinha de Pedra Ramada para aventurar-se cheio de ambições no Rio de Janeiro dos anos 60. Colcha de retalhos de citações e paródias, metalinguagem pura que tem o enredo apenas como pretexto para a brincadeira, no campo da ficção, de um acadêmico respeitado. Divertido jogo literário, como diz Fábio Lucas no prefácio. Infelizmente, não passa disso. 2. Livro - O Piano e a Orquestra Autor - Carlos Heitor Cony, carioca Enredo e comentário História fantasiosa de Francisco de Assis Rodano, personagem que, no interior do estado do Rio, depois de trabalhar em circo e outros biscates, resolve encarnar Lúcifer em batalha contra Deus. O narrador é um jornalista, primo do dito cujo. O autor é um conhecido mestre da narrativa. Nada sobra, a leitura é envolvente, divertida e leve. A linguagem, despretensiosa. Este passeio por uma espécie de realismo mágico, porém, certamente não está entre as melhores produções de Cony. 3. Livro - À Mão Esquerda Autor - Fausto Wolff, gaúcho Enredo e comentário Volume caudaloso, autobiografia romanceada que retoma as origens do personagem-narrador-autor desde a Idade Média, entremeada de ações terroristas de um "serial killer" politizado. Livro irregular, com altos e baixos. As aventuras sexuais, políticas, profissionais são saborosas, mas há passagens tediosas e muita xingação injustificada. Ficaria melhor com um corte significativo de páginas. Como depoimento de uma geração, é valioso. Texto Anterior: A literatura brasileira na balança Próximo Texto: A nova e a velha poesia Índice |
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