São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 1997 |
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Edusp recoloca em cena o Bastide crítico literário
FERNANDO DE BARROS E SILVA
A edição há muito está esgotada. O livro, uma relíquia, ganha agora uma nova edição dentro da excelente coleção "Críticas Poéticas", uma iniciativa conjunta da Edusp e da Livraria Duas Cidades, que começou publicando Marcel Proust, depois Giuseppe Ungaretti, Emile Zola, Murilo Mendes e, agora, Bastide. Um dos grandes pensadores franceses do século, Bastide foi, ao lado do antropólogo Claude Lévi-Strauss e do historiador Fernand Braudel, um dos responsáveis pela formação das primeiras gerações de intelectuais da USP, entre eles Antonio Candido e o presidente Fernando Henrique Cardoso, que foi seu aluno. A USP foi fundada em 1934. Bastide chegou em 38 e ficou no Brasil até 54. Apelidado pelos estudantes de "le petit Bastide" (o pequeno Bastide) para diferenciá-lo de outro professor visitante da USP, o também sociólogo Paul Arbousse-Bastide, "le petit" celebrizou-se por seus estudos sobre as religiões afro-brasileiras. "As Religiões Africanas do Brasil" é considerada a obra-prima entre os seus 30 livros e 800 artigos. O relançamento de "Poetas do Brasil", livro relativamente desconhecido do público, vem acompanhado de um prefácio curto e como sempre luminoso de Antonio Candido. Também vem acrescido de notas elaboradas por Augusto Massi, professor de litaratura brasileira da USP e colaborador da Folha, que é o responsável pela organização do volume. Coube a Massi, como ele próprio escreve, "localizar os poemas citados, revisar passagens da tradução e oferecer referência bibliográfica completa dos títulos mencionados no corpo da obra". O livro que sai agora, diz Massi, "é praticamente uma primeira edição, já que o Bastide citava muita coisa errada, trocava alguns títulos, não estava preocupado com os detalhes do rigor acadêmico". Por outro lado, prossegue Massi, "ele trabalhava muito, compulsivamente, e a massa de leituras que movimentou é impressionante. O material de pesquisa do livro é muito rico, incomum, mesmo para os padrões atuais". O livro tem uma composição híbrida. O primeiro ensaio, "A Incorporação da Poesia Africana à Poesia Brasileira", e o último, "Incorporação do Brasil à Poesia Francesa Contemporânea", são mais gerais, de visão panorâmica. Entre eles, no miolo, estão os ensaios mais breves e específicos, dedicados a alguns dos maiores nomes do modernismo brasileiro: Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet e Carlos Drummond de Andrade. O título do capítulo que os reúne, "Bouquet de Poetas", um verdadeiro achado, já é um sinal do estilo do autor, sempre preocupado em "unir precisão e fantasia", como observa Antonio Candido. Há ainda um quatro capítulo, "Estudos sobre a Poesia Religiosa Brasileira", que se dedica às obras de Augusto Frederico Schimdt, Jorge de Lima e Murilo Mendes. Bastide nunca foi propriamente um crítico literário, embora Antonio Candido, o primeiro a nos alertar para isso, afirme que seu ensaio "Machado de Assis Paisagista", publicado na "Revista do Brasil", em 1940, seja "magistral", e "até hoje não recebeu a atenção dos machadianos". No caso dos "Poetas do Brasil", o que se destaca, segundo Candido, não é a avaliação, a preocupação de separar o bom do ruim, mas a verificação, o esforço de tratar o texto literário como um feixe de significados e sinais que o transformam numa forma privilegiada de conhecimento da sociedade. Nesse sentido, afirma Massi, "o que o livro intui e sugere precisaria ser retomado do ponto em que Bastide parou. O ritmo da poesia negra, a maneira como os elementos formais incorporam questões ideológicas e formações históricas, tudo isso aparece no livro". Livro: Poetas do Brasil Autor: Roger Bastide Lançamento: Edusp Quanto: R$ 14 (176 pág.) LEIA MAIS sobre Roger Bastide à pág. 4-5 Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch Índice |
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